Um jornal como o nosso, não podia ficar impávido, alheando-se do mais que previsível assassinato de Alexey Navalny pelo regime russo. Um cidadão que lutou pela liberdade e por uma Rússia regida pelo Estado de Direito.
Quem tiver paciência para ler o nosso Estatuto Editorial e a razão de ser do projeto, com certeza não perdoaria se ignorássemos mais um vil atentado de Putin aos seus adversários políticos. Navalny foi o mais importante de todos até agora.
“O Cidadão” (OC) é um jornal livre, não segue poderes, não é subserviente. Aceitamos todas as opiniões e distinguimos com grande clareza a notícia e o ponto de vista de quem manifesta opinião. Porém, para defendermos a liberdade de expressão, temos de opor-nos a qualquer tentativa de coação ou censura. Não nos revemos nos totalitarismos ou populismos que visam a destruição do Estado de Direito. Pelo que, elogiamos a postura que sempre teve o cidadão Navalny. E repudiamos o regime autocrático russo e a mordaça que impõe a todos os que pensam de forma diferente do chefe. A desdita do putinismo.
Alexey Navalny foi um herói. De um tempo em que vão escasseando pelo mundo. Tal como os grandes líderes democráticos. Emergiu, em 2011,nas manifestações de protesto à falsa eleição que reelegeu Putin. Foi impedido de aceder aos meios de comunicação – controlados pelo regime – para difundir a sua mensagem de liberdade e esperança ao seu povo. Teve de recorrer às redes sociais, alcançou um público jovem que prosseguiu a construção de uma organização política, apartidária, mas democrática, na clandestinidade. Apesar de estar detido na Sibéria, numa unidade prisional – quiçá a mais cruel da nação- era o motor, a referência de quem se opunha aos massacres que todos os dias sofrem os ucranianos e, também, os jovens cidadãos da federação russa, obrigados a combater num conflito incompreensível à luz do direito internacional. E de todos os Direito Humanos que Putin desrespeita sistematicamente.
Herói, assim pode ser considerado por quem sabe o que é ter a coragem de enfrentar uma ditadura – das mais cruéis da atualidade. Além de mobilizar pessoas para manifestarem-se, fez greves de fome, sofreu diversas torturas, envenenamento e foi encarcerado na Sibéria, com inpedimento de contatatos. E sempre perseguido. Escolheu o caminho mais difícil que poucos, infelizmente, trilham.
Teve a oportunidade de refugiar-se no exterior, quando desmaiou num voo, causado por envenenamento; foi tratado na Alemanha e aí podia ter ficado. Não quis. Rejeitou o estatuto de exilado político e regressou à Rússia, disposto a desafiar, cara-a cara, Vladimir Putin. Nesse momento, o seu destino ficou escrito. Uma questão de tempo, apenas, até ser assassinado como todos os outros que levantaram a voz contra o anacrónico e sanguinário regime russo. Resta a esperança de que algum dos seguidores tome a liderança. E sinta a motivação por via do seu exemplo. Da sua dignidade. Da sua coragem.
E o resto do mundo? Refiro-me às sociedades democráticas. Como vão reagir? É impensável que a Europa “assobie para o lado”, face a mais um desmando russo. Não parece que o faça, aliás, Roberta Metsola já prestou declarações sobre o assunto. E as bombas nucleares que estão nas mãos de loucos e ultranacionalistas?
Estará o mundo livre com uma atitude hostil, mas suave, para manter equilibrios estratégicos ou por medo da Rússia e das armas nucleares? Que fazer agora?
Não temos respostas, obviamente. Mas o Direito Internacional tem de encontrar a forma mais adequada de agir. A luta de Navalny não pode ter sido em vão.
Porque esta toxicidade política russa faz mal a todas as pessoas no mundo inteiro. É fundamental que acabe. Alexey Navalny fez o mais difícil, começou, indicou o caminho. Os países democráticos e os cidadãos russos que querem respirar em liberdade têm de seguir o exemplo e continuar a luta. Mais solidária ainda.
Para que haja paz entre todos os cidadãos do mundo. E para que os totalitarismos percebam que a democracia e o Estado de Direito também sabem defender-se.

Jornalista