“Por vezes, evitar o risco conduz à aniquilação da possibilidade de crescimento, aprendizagem e gestão da vida num mundo em que nunca se toma a iniciativa.”
(Jordi Nomen, Filosofia para Crianças, Pergaminho, Lisboa, 2021)
São as dores de crescimento que nos fazem avançar e mudar. Sentimos que o mundo, essa imperfeição, necessita da nossa atenção, do nosso cuidado, da nossa entrega – todas elas imperfeitas competências de cada imperfeito ser humano.
Não é a perfeição que urge desejar. É a “boa vida” de que Aristóteles nos falou. Uma vida melhor, que permita a maior realização de cada um, de cada uma.
Por isso, Jordi Nomen define “pensamento cuidadoso” como aquele que “estabelece o que vale a pena preservar e é para isso que se desenvolve a empatia a capacidade de nos pormos na pele de outra pessoa, de pensarmos como ela pensa, de sentirmos como sente para tentar que o juízo seja mais justo.”1 Transformar pontos de vista em pontes de vista. E de ação: “devemos acreditar em nós próprios e nos demais, porque somos escultores dos nossos desígnios. É por isso que é tão importante as crianças terem adultos que acreditem nelas à sua volta.”2
Sabemos que a nossa espécie sobreviveu, face à supremacia das outras, alicerçada no espírito de comunidade. Acreditar nos outros, no esforço partilhado, na comunhão de experiências e resultados de ações decididas em conjunto e em conjunto realizadas – é nisto que reside o poder da nossa existência: “As experiências de vida vão-se acumulando e promovem um desenvolvimento que tem em consideração os demais. Surge, com força, a alteridade, que vai envolvendo o pensamento cuidadoso com afeto e segurança, sem excesso de proteção, mas fazendo um esforço por educar com os valores que tornam possível a convivência entre pessoas diferentes.”3
Sabemos que não basta alguns quererem para se chegar a esta meta. Sabemos que nos constitui o egoísmo, a vingança, a vontade de oprimir, de subjugar, de desprezar. Mas também somos feitos de dádiva e empatia, de colaboração e solidariedade.
O Bem não está conquistado. Constrói-se passo a passo, mão na mão. E olhos nos olhos. Com abertura ao diálogo. Respeito pela posição alheia. Disponibilidade para reconhecer erros e enganos. Dói? São dores de crescimento.
Nota:
Filosofia para/com crianças: “Estou convencido de que o contacto precoce da criança com a filosofia (…) pode servir para formar os cidadãos críticos, criativos e cuidadosos que uma democracia do século XXI exige. Além disso, a filosofia poderá capacitá-los para viverem uma vida menos impulsiva e mais autónoma, uma vida que não seja vivida para colmatar uma lacuna, mas para lutar ativamente pela consubstanciação de um conjunto de valor”
1.ibidem,p.68
2.ibidem,p.71
3.ibidem,p.72
4.ibidem,p.78

Professora de Filosofia