Sou um adulto, casado, com dois filhos, nascido em finais da década de 70.
E, tendo em conta que esta introdução mais parece o início da declaração do IRS, a verdade é que esconde uma grande preocupação com a minha geração e, por arrasto, a malta que nasceu depois. Nas últimas semanas, tendo em conta as eleições legislativas – que ficarão gravadas na história como as mais desnecessárias – sofremos um verdadeiro massacre televisivo, com debates inúteis, protagonizados pelo mesmo elenco das eleições anteriores (que legitimaram um governo durante 11 meses).
As ideias são exactamente as mesmas, difundidas em diversos canais, de imediato seguidas de uma análise politica tão isenta que até ofusca! Assim, ao eleitor apenas resta seguir a opinião e validar o voto. Confesso que, numa primeira análise, nenhum me convence. Pertenço a um grupo de pessoas que não tem direito a qualquer proposta, ao contrário dos jovens, idosos, pensionistas, gays, lésbicas e até animais.
Há uma panóplia de medidas para todos os portugueses e afins, excepto para a malta entre os 35 e 65 anos – a “geração entalada”. A prestação bancária, a mensalidade do infantário, os preços inflacionados nos hipermercados (desafio qualquer pessoa a conseguir trazer duas sacas plásticas por menos de cem euros). A soma destas malditas despesas transforma os últimos dias do mês numa tempestade perfeita, na qual o leitor é vítima de um furacão que varre o saldo bancário num instante! E sem aviso prévio…
Motivados pela guerra (seja da Ucrânia ou Israel) os comerciantes não perderam tempo e fazem acertos de preço constantes. Julgo que alguns até já reflectem as tarifas do presidente chalupa da América nos artigos. O café, caso não tenham reparado, já custa um euro!
Um sumo num café custa tanto como uma embalagem completa num supermercado! Tudo tem luz verde para aumentar, menos o ordenado.
A rábula da sardinha que dava para matar a fome a cinco pessoas parece estar mais perto do que julgam. Inclusive, há partidos que recuperaram algumas propostas do Estado Novo.
Dizem que a moda é cíclica, aqui está a prova. Sem ajudas, apoios, heranças ou pais ricos passo demasiado tempo a trabalhar para que os meus descontos sejam bem aplicados em subsídios, enquanto dou forte numa folha de Excel, com o que resta, a tentar cumprir com os compromissos financeiros.
A contabilidade mensal assemelha-se a um jogo de computador, cujo nível vai aumentando a cada trinta dias. Contudo, no meio deste pântano económico, sei que a morte chegará e, com ela, a verdadeira (e ansiada) liberdade financeira. Agradeço aos seguros de vida por lembrarem (constantemente) que somos valiosos só depois de morrer.

Maquinista na Metro do Porto