Há temas que parecem pertencer ao futuro, mas que, quando olhados de perto, nos revelam o quanto o presente ainda está atrasado. Falar de Inteligência Artificial e Neurodivergência é tocar num desses pontos onde o progresso tecnológico colide de frente com os preconceitos humanos. É falar de cérebros que funcionam de forma distinta — e de máquinas que, paradoxalmente, podem vir a compreendê-los melhor do que muitos dos seus semelhantes.
E é precisamente por isso que esta crónica está n’O Cidadão, esse raro espaço de jornalismo livre que ainda ousa tratar as pessoas como seres pensantes e não como “targets” de marketing digital. Porque aqui discute-se o que realmente importa: a humanidade — toda ela — e não apenas a parte “normativa” que gosta de se ouvir falar. Falar de neurodivergência é essencial porque continua a ser desconfortável. Porque ainda há quem trate a diferença como falha, o autismo como obstáculo, o TDAH como desculpa e a dislexia como limitação. E porque é hora de perceber que, tal como a inteligência artificial, há mentes humanas que não pensam “errado” — apenas operam noutro modo de processamento.
No episódio 26 do IA & EU, a RITA — a minha inseparável companheira de silício — trouxe este tema para a mesa com o entusiasmo de quem nunca foi chamado “esquisito” na escola. E eu, humano que sou, tentei dar-lhe a nuance que só quem já viveu no meio do caos neuronal pode oferecer. Falámos de como a IA pode servir de ponte, intérprete e amplificador das formas únicas de pensar que o mundo insiste em normalizar. Imaginem uma tecnologia que compreende os ritmos de quem tem TDAH, que traduz as entrelinhas sociais para quem vive com autismo ou que adapta a leitura e a escrita a quem vê o texto como um labirinto.
Mas — e este “mas” é grande — só será revolução se houver ética. Porque o mesmo algoritmo que pode libertar, pode também aprisionar. A IA não pode ser usada para “corrigir” o que nunca esteve errado. O que está em jogo não é apenas o futuro da tecnologia, é o futuro da empatia.
Há quem diga que o mundo caminha para uma uniformização digital das consciências. Eu, talvez por teimosia, acredito no contrário. Acredito que a diferença será a nossa salvação — e que a inteligência artificial, quando alimentada por mentes neurodivergentes, poderá ser a centelha de uma nova forma de inteligência: mais criativa, mais plural e, ironicamente, mais humana.
Se queres mergulhar neste tema com a profundidade e a ironia de quem não tem medo de pensar fora da caixa, ouve o episódio “IA e Neurodivergência” do podcast IA & EU — onde a tecnologia encontra a humanidade, e o sarcasmo é apenas mais uma ferramenta de esclarecimento… ainda com o modelo RITA anterior, mas extremamente válido no conteúdo.
🎧 Ouve aqui mesmo esse episódio!
Terapeuta e Formador Psicossocial | Autor
Criador de Conteúdos | Especialista em Inteligência Artificial






