O verão será sempre um tempo de quimeras e maresias.
Um tempo propício a amores juvenis. Nascem nas tardes quentes e longas e enlaçam-se rente ao crepúsculo. Parece uma ideia romantizada, mas não negamos este estádio de felicidade. Já o sentimos. Já o vivemos.
Tudo é experimentado ao sabor das ondas que vão e vêm e areias quentes. Os corpos ferventes e as luas nos olhos, acordam os sentidos e avivam a chama adormecida. São as intensas tardes de verão em lençóis de areia quente.
É o verão. E dele, tantas vezes, guardamos pedaços de nós – que bom que assim seja!
A memória aviva-se quando abrimos as pequenas caixas onde deixámos restos de verões. Os búzios e as conchas num murmúrio íntimo. Pequenas folhas de guardanapos com marcas de café onde se desenham ondas de palavras.
Acende-se de novo o olhar e o mar inunda a tarde outonal.
Segura na mão um papel amarelado com resquícios de sol e marés vivas.
“Acordei contigo a vigiar-me o olhar e fez-se sol no corpo. Tive vontade de dizer o teu nome, inventar contigo as chuvas de verão. Desfazer o silêncio das palavras e tecer manhãs em lençóis de linho. Reencontrar todas as coisas invisíveis como se fossem fragmentos de uma balada antiga.
Gosto deste tempo que me traz o voo das aves – uma liberdade silenciosa.
São as nossas alvoradas um desmedido segredo azul, olhares estendidos e um manto resplandecente sobre o perfil dos nossos corpos – uma liberdade que nos aconchega.
E de novo, o reencontro dos dedos, das bocas e o impulso de voar. E de repente, a tua presença vive na ternura dos poentes enquanto a tarde se comove.
A tarde comove-se com o cair dos meus olhos sobre o respirar da tua boca.
Há amores que permanecem mar.
Por isso quando cruzo o oceano levo-te na alma e tenho em mim toda a beleza renascida.” – verão de 74.
Deixou-se ficar para, tranquilamente, regressar à paisagem daquele verão que lhe cobriu o corpo. Também regressou àquele rosto moreno e olhar incendiado que um dia o mar lhe trouxera e com quem cruzara tantos verões…
Professora e Escritora