“Apaixonamo-nos repetidamente pelas pessoas erradas”, uma manifestação que nos remete sem qualquer hesitação, para a desventura.
Na nossa cabeça, passam filmes a preto e branco e pensamos que melhores dias virão e que estes, se sobrepõem aos dias piores. Que tudo não passa de uma fase e momentos desabrigados.
Já todos ouvimos “Apaixonamo-nos repetidamente pelas pessoas erradas” e difundimos a expressão como se fosse um veredicto e o sentimento que a provocou seja há muito, uma pesada condenação. E esta sentença para muitos, é a precipitação de um aresto logo que intuíram o crime. Uma condenação sem atenuantes, onde não há pena suspensa e a haver saídas precárias, estas serão para um futuro ainda distante.
E deixamos o tempo passar. Acomodamo-nos, umas vezes, sem coragem, outras tantas perdidos. Vamos sendo engolidos pelos dias e anos. É mesmo assim que pensamos e a relação jamais será anulada porque deixamos que o ressentimento se aloje na memória – como uma ferida. E num registo cicatricial fica uma perceção da violência duma dor que tanto nos custou a suster.
Mas na vida nada é linear.
Vivemos, pois, num estado antagónico e incompreensível, tão estranho que quando seria presumível aprender com o passado e obter a absolvição da vida com a conivência do tempo e alcançar a reintegração numa existência tranquila, eis que, ao despontar da primeira oportunidade, cometemos o mesmo delito.
E voltamos aqui, “Apaixonamo-nos repetidamente pelas pessoas erradas”
Uma e outra vez voltamos àquele estado impetuoso e vemos que de nada serviu o recordar da sentença e as certezas do passado. A realidade é outra coisa e a aprendizagem da mesma, não chega, enfim, para nos afastar do precipício de voltarmos a cair na teia da paixão pela pessoa errada. E nesta teia não há lei que nos salve.
Sabemos que as paixões se desfazem e sofremos com isso, mas voltamos ao mesmo lugar e apaixonamo-nos repetidamente pelas pessoas erradas. Acho que há nessas pessoas um mistério qualquer que nos impele à paixão. Nem sempre o abrangemos e só por isso nos apaixonamos. Apaixonamo-nos sim, pelas pessoas que nos despertam os sentidos, os dias e as noites. Incendiamo-nos desse sobressalto. Dessa paixão que nos incendeia a vida. Mas não é permanente, sofre as suas intermitências.
Não será daqui que nos encaminhamos para o Amor?
É utópico viver apaixonado uma vida inteira pela pessoa certa. É pedir muito a si próprio e ao outro.
Assim, a pessoa errada nunca será perfeita, mas pode tornar-se na pessoa imperfeitamente sonhada.
O problema é que como não podemos amar alguém sem nos apaixonarmos primeiro, estamos também condenados a amar a pessoa errada.
A paixão é um desafio que felizmente nos ronda e espreita, mas também um sentimento que nos embriaga e só assim compreendemos as inconsequências do que é estar apaixonado.
Mas impõe-se aqui alguma reflexão, afinal quem é a pessoa certa?
Haverá aquela pessoa certa ou o certo é viver a paixão e depois amar?
E podemos nós amar alguém sem nos apaixonarmos?
Deixo em aberto…
O compasso dos dias há de curar o que for de curar e se houver cicatrizes será o amor a determinar a coragem de cada um.
Professora e Escritora