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Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

“Sê como tu és” – Por Ana Costa

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Ana Costa
Ana Costa
Professora do 1º Ciclo do Ensino Básico

Aqui há tempos, fui surpreendida por umas meninas minhas alunas, com oito anos de idade, com um desempenho artístico digno de qualquer grande espetáculo musical, cujo refrão era “Professora, sê como tu és!”.

De imediato me emocionei como estas palavras tão simples e sinceras… Como é que as crianças conseguem dizer o que sentem de forma tão linear?

É sabido que os professores numa sala de aula, vestem diferentes capas e não se assumem como meros transmissores de conhecimentos, sobretudo nestas idades. Mas há situações e há frases que surgem em ambiente escolar que, por mais simples que pareçam, têm o poder de nos desarmar. Entre tantas pérolas ditas pelos meus alunos, esta tem ecoado no meu coração: “Professora, sê como tu és.

Quando as pequenas me disseram isto no final de um dia de trabalho (de ambas as partes), nem se deram conta do impacto que estas palavras teriam.
Naquele momento, senti-me vista. Vista através da visão mais pura que existe, que é a das crianças, por não terem filtros sociais. Naquela primeira vez, porque outras se repetiram, senti que olhavam para mim, não como alguém que ensina a ler, a escrever, a contar, a pintar… Mas como uma pessoa! E isso não tem preço! Sim, emocionei-me… O meu coração deitou uma lágrima de comoção que foi sossegada com sorrisos e abraços…

Professora, sê como tu és.” é ser uma professora que tenta equilibrar a firmeza e o carinho, a autoridade e a compreensão. É ser a professora com que sempre sonhei…
Na maior parte das vezes, nós, os adultos (e os nossos filtros), esquecemo-nos de que a autenticidade é uma forma de ensinar. As minhas crianças percebem tudo em mim: o tom da minha voz, o brilho dos meus olhos, os dias em que estou mais cansada, bem como aqueles em que trago energia renovada. Os dias em que estou triste e me abraçam…
E mais uma vez, eu aprendi com eles….

Aprendi que não esperam que eu seja perfeita. Aprendi que aquilo que esperam é a verdade, a autenticidade. As crianças querem que os adultos sejam “reais” e por isso, julgo que o que querem de mim, é que eu seja uma professora que ri quando algo sai errado, quando eu própria me engano, quando eu reconheço as minhas falhas, mas sobretudo, quando eu mostro humanidade. Julgo também ser este um caminho que fazemos juntos e onde aprendemos a lidar com os nossos erros, fragilidades e, claro, todas as conquistas.
“Professora, sê como tu és.”, faz-me também pensar: quantas vezes eu deixo de ser como sou? Quantas vezes eu tento encaixar em moldes que não são os meus? E porquê? Pelo peso das expectativas ou por medo da avaliação dos outros?

“Professora, sê como tu és.“, são as crianças a lembrar-me que ser autêntico é o que realmente importa. São as crianças a lembrar que esperam de nós verdade, justiça e amor!
Então, eu quero muito agradecer aos meus meninos e meninas, por me permitirem ser quem eu realmente sou. Por me deixarem fazer parte da sua vida e por me aceitarem com as minhas imperfeições. E por, na sua simplicidade, me mostrarem que o que faço no dia a dia, é muito mais que ensinar, é acima de tudo, um ato de verdade.

Sou muito grata por fazer na vida aquilo que sempre quis, mas sou muito grata também por ter meninos comigo, que me deixam ser como sou, nos dias bons e nos dias mais desafiadores. Obrigada por me quererem assim, com as minhas imperfeições, com os momentos em que não tenho respostas…

Ser criança é mostrar que não é preciso ser impecável para inspirar, é preciso ser-se real e isso, é ensinar a Ser. Na nossa sala, partilhamos quem somos, com virtudes e vulnerabilidades, abrindo espaços para que todos sejam quem são. No final de cada dia, não há lugar a lições perfeitas, mas no meu coração ficam os momentos de cumplicidade, os sorrisos partilhados e o exemplo de sermos humanos, genuínos e inteiros.


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