Vivo numa cidade do interior, VISEU. Por motivos profissionais, viajo vezes sem conta pelo meu distrito, bem no interior de Portugal, afastando-me da sua Capital…
E gosto!
No entanto, a palavra gosto tornou-se muito fácil de utilizar. Gostamos do muito e do pouco. Do bom e do nem por isso, do superficial e do profundo, do que é a cores ou do que é a preto e branco. Passámos facilmente a gostar do com e sem sal, do fresco e do natural, do calor e do frio, do primeiro e do último, do segundo e do penúltimo. E é muito simples gostar do quase tudo e do quase nada. De tal forma simples, que a ponta de um dedo basta para se mostrar ao mundo do que gostamos. Bendita evolução tecnológica.
Sabe a pouco, talvez!
No interior do meu belo país, onde vivo e trabalho, gostar é um verbo transitivo regular, com muito mais substância do que forma. Gostar é também achar saboroso, porque em mais nenhuma outra zona do país se come um feijão de espeto, um cabrito assado, ou um pudim de castanhas. Sempre, mas sempre, com uma guarnição feita de sorrisos e ternura. Gostar é também sentir prazer em sair por estas bandas e poder parar e respirar a essência das “Terras do Demo” de beleza inacabável, as paisagens Aquilinianas para as quais, além dos olhos de ver, são obrigatórios os ouvidos de ouvir os sons do linguajar e das ladainhas da beira, tão naturais como a própria paisagem humana. Gostar é também ter afeições e amizades, fáceis de autenticar e de manter. Substrato da riqueza de um património imaterial vestido por trajes de grandes histórias de vida e envolvido por festas e tradições autênticas. Cultura de gente que proíbe, enquanto partilha a herança linguística inegociável, a possibilidade de alterar uma jura feita ou uma palavra de honra. E gostar não chega. Exige-se que se mostre que se gosta. Cliques de ponta de dedo ou olhos de apenas olhar ficam longe da fasquia mínima obrigatória para se demonstrar ou evidenciar que, de facto, se gosta.
À medida que me vou afastando da cidade, a genuinidade transforma-se num requisito base e a falta dele é facilmente detetável à distância.
Todas as organizações e, em particular, as empresas que vão teimando em ficar, têm como ponto imprescindível de sucesso, a autenticidade das relações pessoais que estabelecem de dentro para fora e de dentro para dentro. O seu público, interno e externo, é exigente.
Pessoas que não são números e que não gostam por gostar, gostam por sentir. Tenho a enorme felicidade de ver organizações que associam a sua crença heroica em não deixar morrer o interior do país, a um enorme gosto pelos resultados obtidos e de sabor sempre especial, verdadeiros e com assinatura, capazes de originar um sentimento único de satisfação e gosto de todos aqueles que com elas colaboram.
Bem sei que daqui não consigo ver o mar, mas na beleza (do) interior também se pode navegar!
Escritor e Gestor de Empresas