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Sexta-feira, Fevereiro 7, 2025

VCI do Porto e Saint Exupéry – Por Amaro F. Correia

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Amaro F Correia
Amaro F Correia
Docente na Atlântico Business School/Doutorado em Ciências da Informação/ Autor do livro " Governação e Smart Cities"

Quando o mistério é demasiado grande, não nos atrevemos a desobedecer“.

A Via de Cintura Interna (VCI/IC23), no Porto,  foi, sempre, uma dor de cabeça para os autarcas do distrito e para quem reside próximo: por um lado, que foi mal projetada e por outro, a sua concretização deveria ter perfis adequados ao futuro.

Antes de mais, para não pensarem num “paraquedista bitaiteiro”, devo sustentar que sou Tripeiro de Gema, resido no Porto há 60 anos, na Prelada, com janela voltada para a VCI (escassos 30 metros). Há cerca de 25 anos, formamos uma Comissão da VCI, na forma e no conteúdo, descomprometida com partidos, com o objetivo de tornar público o problema e tentar amenizar o transtorno que a Via infligia a quem vivia por perto. A amizade, entre nós, na Comissão, era fundamental, porque “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.

Daí até a concretização dos radares (negociados por nós, em Coimbra); a limitação e velocidade (90km/h e depois por proposta do IEP, 80km/h, que concordamos); a renovação do piso; a iluminação; a redução de ruído e as famosas barreiras acústicas, que tanto demoraram… Tudo, mas tudo, negociado por nós, com a intermediação do deputado Fernando Jesus, do PS, que dentro das suas possibilidades nos ia abrindo a porta dos Ministérios em Lisboa, para resolver. Um verdadeiro deputado próximo do povo, tal e qual deveriam ser todos. Foi isto e tão só, que nos motivou a desbravar contactos para resolver o problema. Fizemos, na altura, uma visita à VCI com deputados da AR, acompanhados pelo Bernardo Ferrão (ainda muito novinho na SIC); fizemos, ordeiramente, todos, mas todos os contactos para resolver esta questão a favor de quem vivia e sofria com este problema.

A solução que sempre defendemos foi e tão só: enterrar a via, parcial ou totalmente, reaproveitando-se todo o espaço público, disponível para usufruto de quem vive e passa na cidade. Acrescento que, nessa altura, não tínhamos ainda o turismo massivo, que nos dava garantias da resolução deste problema, nem a venda compulsiva da cidade a estrangeiros endinheirados. É importante, para quem não conhece, dizer que que a VCI tem um perfil de autoestrada, contorna (anel) a zona central de núcleos urbanos do Porto e Gaia num total de 21 km: 2016 – 30% da população da Área Metropolitana do Porto (AMP), vivia no “interior” do anel da VCI; em 1995 passavam cerca de 135 mil veículos/dia; 126 mil/dia na Ponte da Arrábida e 20 mil/dia na Ponte do Freixo; 2006 a Ponte da Arrábida recebia cerca de 170 mil/dia; a finalização do projeto deu-se em 2007. Hoje, o valor/dia é superior a 250 mil veículos com a mesma configuração da via e aumento exponencial de habitações, sem qualquer alteração previsível para a proteção do ruído. Em 2007 reunimos com o Secretário de Estado, Paulo Campos, em Lisboa, (deslocações a nossa custa) que nos propôs, presencialmente, uma solução (côncava) de fecho, em barreira acústica, que protegia os edifícios, em altura.

Até hoje, como é normal, pouco foi feito, além da colocação de barreiras acústicas, em partes da Via. Os únicos autarcas que nos apoiaram e se interessaram por esta questão, foi o Presidente Fernando Gomes e o Eng.º. Nuno Cardoso. Nenhum, ao contrário do que foi noticiado, negociou seja o que fosse, ou se interessou por qualquer questão sobre a VCI.

Os “bitaites” de hoje significam e só, imagens de comunicação e nada mais, porque na prática, nada foi feito. Se o problema fosse na Avenida da Boavista ou na Foz, já teria sido resolvido. “Tornas-te responsável por tudo o que cativares”.

A VCI foi proposta por Antão Almeida Garret, (imortalizado num arruamento, na Prelada) no PGU da cidade, em 1947. Inicialmente, a proposta abrangia o troço entre a Ponte da Arrábida, ligando a Via Rápida de acesso a Leixões à Via Norte, com acesso a Braga/Viana, fechando em arco, uma ponte mista. Estou em crer, apoiado em estudos comparativos, que após as diligências da Comissão, a VCI deixou de ser uma das estradas mais perigosas do país. O ruído tem sido atenuado com um piso especial, mas os residentes ainda estão sujeitos a decibéis acima do recomendado para a saúde.

As citações aqui descritas são d’ “O Pequeno Príncipe, (Antoine de Saint-Exupéry, 1943), – obra literária mais traduzida e vendida no mundo. Recomendo o livro porque tem muitas ilustrações/frases que carregam mensagens profundas de respeito pela vida, amor, amizades e relacionamentos humanos. A VCI trata disto mesmo. A população residente, criou amizades, obrigou os governantes a respeitarem a vida e a interessarem-se por relacionamentos humanos.

Obrigado ao Jorge Silva, ao Paulo Coelho, à Maria Emília Madureira, à Maria José Pinto e tantos outros que corporizaram o projeto. Ao António Gouveia, do Foco, que apesar de politicamente distante de mim, também esteve presente. É justo. Responsabilizo, diretamente, o BE/Porto, através do deputado municipal, caquético e doentio politicamente, aflito com a visibilidade que demos, insistiu em estagnar o problema, desde 2010. Registo para memória futura, a postura dos políticos, sem eira nem beira, que não se apercebem dos problemas reais. Obrigado deputado Fernando jesus, que falta fazes ao Porto! Obrigado a todos, mas o tempo passou com pressa.

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