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Terça-feira, Setembro 17, 2024

Empatia e Sensibilidade na Educação: fortalecer a relação professor-aluno para uma aprendizagem eficaz – Por Clara Boavista* e Pedro Nogueira Simões

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Pedro Nogueira Simões
Pedro Nogueira Simões
Advogado, Psicólogo e Investigador Universitário

Quando Carl Rogers reforçou que ser empático é ver o mundo com os olhos do outro e não ver o nosso mundo refletido nos olhos dele…

Ou seja, este psicólogo norte-americano foi ainda mais claro quando defendia que era a posição de viver temporariamente a vida do outro, morar ali dentro, e se mover ali de forma muito delicada, sem fazer nenhum tipo de julgamento, buscando perceber sentimentos que ela provavelmente não tomou consciência, bem como procurando não reprimir os sentimentos que pareçam ameaçadores e que ela porventura já tenha percebido.

Mas, a própria literatura científica veio ainda a salientar a ideia de que se trata de uma das funções da inteligência humana, e esta aplicada por exemplo, a pessoas que se encontram nas primeiras fases de vida aquando do seu crescimento, são cruciais para o processo de aprendizagem e de desenvolvimento.

A empatia e a sensibilidade na educação são competências fundamentais que vão além da simples transmissão de conhecimento. Cultivar estas habilidades no contexto educacional é um investimento essencial no futuro dos alunos e da sociedade como um todo, tornando-a mais justa e humanitária.

O tema da sensibilidade e do desenvolvimento da empatia na relação entre professores e alunos, apesar de crucial, é frequentemente subvalorizado e tratado com hesitação no contexto do teatro educativo.

A falta de discussão aprofundada sobre esta matéria é sintomática de uma inquietação subjacente entre os professores, que muitas vezes receiam que a ênfase na empatia possa comprometer a autoridade e a eficácia no ensino.

No entanto, a autoridade não se opõe à empatia; pelo contrário, ela é fortalecida quando os alunos sentem que são compreendidos e respeitados. A empatia não é antónima de rigor, podendo funcionar como uma ferramenta poderosa para melhorar a aprendizagem e criar ambientes educacionais mais produtivos.

A nossa experiência pessoal reforça o impacto que a empatia e a sensibilidade do professor desempenham na aprendizagem. Professores que demonstram acessibilidade, compreensão e empatia tendem a ser lembrados positivamente e a inspirar os alunos.
Por outro lado, professores que carecem dessas qualidades podem deixar marcas negativas e até duradouras nos alunos, criando barreiras emocionais que dificultam a aprendizagem, mesmo quando os conteúdos e métodos utilizados são de elevada qualidade.

É importante sublinhar que o sucesso educativo é multifacetado e depende de vários fatores, incluindo a qualidade dos conteúdos, a metodologia utilizada e a motivação dos alunos. No entanto, a relação professor-aluno é um dos pilares mais importantes desse processo, sendo a empatia um elemento facilitador que contribui para um ambiente mais acolhedor e propício à aprendizagem.

Professores empáticos são, geralmente, mais capazes de estabelecer vínculos mais fortes com os alunos, adaptando as suas abordagens para atender às necessidades individuais dos alunos, o que pode aumentar a motivação e a confiança, tornando o processo educativo mais eficiente e agradável.
Uma das principais questões no debate sobre a empatia na educação é como equilibrar essa qualidade com o rigor académico. A chave para o sucesso educacional pode estar em encontrar um equilíbrio entre ambas as partes.

sala de aulas scaled
Foto de KATERINA HOLMES

Professores que conseguem ser empáticos, sem sacrificar a qualidade do ensino, tendem a criar ambientes de aprendizagem mais positivos e eficazes. O feedback empático é construtivo e orientado para o crescimento, oferecendo aos alunos a oportunidade de melhorar sem se sentirem desencorajados.

Para que a empatia seja efetivamente integrada na prática educativa, é necessário que os professores desenvolvam habilidades específicas. Isso inclui a capacidade de ouvir ativamente, compreender as perspetivas dos alunos e responder de forma que fortaleça a sua autoestima, encorajando-os continuamente.

Além disso, a empatia deve ser acompanhada de uma gestão eficaz da sala de aula, onde as expectativas são claras e o respeito mútuo é a norma.

As estratégias para desenvolver a empatia incluem a criação de um ambiente de sala de aula onde a diversidade é valorizada e todos os alunos se sentem incluídos. Professores podem, por exemplo, utilizar atividades colaborativas que promovam a interação entre alunos de diferentes origens e habilidades, incentivando a compreensão mútua e a cooperação entre todos.

A empatia também desempenha um papel crucial na promoção da inclusão e da diversidade no ambiente escolar. Professores que são sensíveis às diferentes necessidades e backgrounds culturais dos alunos estão mais bem preparados para criar uma sala de aula onde todos se sentem valorizados. Isso não apenas melhora o ambiente de aprendizagem, mas também prepara os alunos para viverem e trabalharem numa sociedade diversa.

Além disso, ao cultivar a empatia entre os alunos, os professores podem ajudar a reduzir comportamentos prejudiciais, como o “bullying”, e promover uma cultura de respeito e apoio mútuo. Isso é particularmente importante em contextos educacionais onde a diversidade é a norma e a compreensão intercultural é uma competência essencial para o sucesso.

Concluindo, o papel do professor na educação contemporânea vai muito além de transmitir conhecimento. Num mundo em constante transformação, onde as relações humanas são cada vez mais complexas, a empatia e a sensibilidade face aos alunos emerge como uma competência essencial para os educadores.
O desafio é repensar o papel do professor à luz das mudanças sociais e educacionais das últimas décadas, promovendo uma educação que não prepare apenas os alunos academicamente, mas também os forme como cidadãos conscientes e empáticos.

A sala de aula deve ser um espaço onde o respeito, a compreensão e a emoção se entrelaçam para criar a melhor experiência de aprendizagem possível. Afinal, ser professor é muito mais do que ensinar; é inspirar, orientar e apoiar os alunos no seu caminho para se tornarem a melhor versão de si mesmos.

* Docente Universitária e Doutorada em Educação

 

 

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