A APAF, fundada em 1994 por um grupo de 40 entusiastas do género, entre os quais o investigador Luís de Castro e o encenador Alberto Varela Silva, tem um novo presidente desde fevereiro último, o fadista Tiago Correia que sucedeu à fadista Julieta Estrela, uma das fundadoras.
Em declarações à agência Lusa, Tiago Correia realçou “os 30 anos de profunda pesquisa, investigação e divulgação do fado e da sua história” pela APAF. Assim, dando sequência a este trabalho, nos próximos dias 12 e 13 de outubro, a associação realiza dois debates na Livraria Stuffout, em Lisboa, onde, a partir de dia 8 e até dia 13 de outubro, fica patente uma exposição bibliográfica de títulos fadistas.
A exposição apresenta livros do espólio da APAF, publicados entre 1860 e 2016. Em declarações à Lusa, a anterior presidente da associação, Julieta Estrela, recordou o esforço da associação na aquisição destes títulos, tendo também recebido algumas doações.
Sobre o espólio em exposição, Tiago Correia realçou “a versão original do livro ‘A Severa’, de Júlio Dantas, de 1901, o livro de A. Vítor Machado, de 1937, ‘Ídolos de Fado’, que dá a conhecer alguns dos fadistas e instrumentistas mais marcantes da época e que acaba por traduzir a história do Fado entre finais do século XIX e início do século XX, e ainda a obra ‘Cantigas do Fado’, de Luíz D’Araújo, de 1881, escritas, como diz na capa do Livro, ‘para se cantarem à guitarra e ao piano’”
Os dois debates serão moderados por Tiago Correia. O primeiro vai acontecer no dia 12 de outubro, à tarde, será sobre “Fado Tradicional” e reúne os fadistas Julieta Estrela, Ricardo Ribeiro, Diana Vilarinho e Hélder Moutinho, também poeta e produtor musical, e ainda o musicólogo Rui Vieira Nery.
Nesse dia, também se cantará o fado. A partir das 16:30 deverão atuar os fadistas António Rocha, um dos fundadores da APAF, e Beatriz Felício, que editou em junho passado o seu álbum de estreia, acompanhados pelos músicos Ângelo Freire e Francisco Lacerda, na guitarra portuguesa, e Pedro Soares, na viola.
Questionada pela Lusa se o fado tradicional corre risco de se perder, Julieta Estrela, 85 anos, afirmou: “Como eu o conheci, corre, mas quem sou eu para julgar uma coisa destas?“, interrogou-se. A cofundadora da APAF, no entanto, reconheceu que “não é a mesma coisa”: “Uma tradição não pode ser mudada como as pessoas querem, se é a tradição é a tradição. Tem de ser respeitada!”. A fadista confessou que a “choca muito” ver as fadistas atuarem sem xaile, por exemplo.
Tiago Correia considera que “atualmente vive-se um momento de transição, onde muitos jovens da geração dos 20 e 30 anos se apresentam novamente, em qualquer parte, com fado tradicional, entre as suas prioridades”.
“Até o público mais jovem começa a ter um gosto generalizado em frequentar os espaços de fado, onde o registo tradicional é mais evidente. Isso deixa-me muito feliz, porque o fado tradicional tem tamanho mais que suficiente para ser apreciado, estudado, investigado e debatido. É isto que se pretende com estas conferências. Existem pessoas de várias gerações curiosas de aprender os seus conceitos e as suas características”, acrescentou o presidente da APAF.
No dia 13, também à tarde, o debate será sobre Amália Rodrigues, e conta com a participação dos fadistas Camané e Gonçalo Salgueiro, do poeta Manuel Alegre, de quem a diva cantou “Trova do Vento que Passa”, dos investigadores Joana Machado e Pedro Pinheiro Vaz, e de Vicente Rodrigues, presidente da Fundação Amália.
Sobre o debate, Tiago Correia disse: “O nosso objetivo é fazer a ligação dos nossos convidados à importância que Amália representa, e perceber como ela, além da obra, além da mulher que sempre foi, continua a ser motivadora de experiências e de caminhos para tantos, que a admiram e veneram como a maior artista portuguesa de todos os tempos”.
Neste dia o programa de fado será garantido por Ângelo Freira, também na guitarra portuguesa, e Elsa Laboreiro, acompanhados por Francisco Pereira, e Carlos Viçoso, na viola.
Questionada sobre a mudança de testemunho, Julieta Estrela afirmou que o entregou a alguém que “tem respeito e interesse pelo fado” como tiveram os fundadores da associação, referindo que “o tempo é outro”.
Acompanham Tiago Correia nos corpos gerentes da APAF, com sede em Lisboa, os fadistas António Rocha, Elsa Laboreiro, Beatriz Felício e Ana Paulo, e também os músicos Ângelo Freire, Francisco Pereira e João Domingos.
A nova direção da APAF tomou posse no passado 11 de fevereiro, sendo este o primeiro evento público que organiza.
OC/AJS/Lusa