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Segunda-feira, Março 24, 2025

A adolescência e os pontos finais do amor… – Por Rosa Fonseca

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Rosa Fonseca
Rosa Fonseca
Professora e Escritora

Sentou-se numa mesa próxima da minha. Devagar, como se trouxesse um fardo agarrado ao corpo. Trazia um rosto contristado. Registei no seu olhar, uma penumbra e uma direção indefinida. Não pediu logo o café, esperava alguém.

Continuei com os olhos pousados nas frases sublinhadas – algumas ambíguas, de um livro sobre o amor. O amor que nos pode incendiar a vida, pôr de frente com a vida, viajar pela vida – uma busca constante… Um desafio!

Estávamos num café, um espaço exíguo, mesas muito juntas. Impossível não ouvir o estrondo da mágoa, que a voz da rapariga arremessou contra o rosto inquieto e pálido do então namorado – pelo que me apercebi.

Estremeci com o eco do desabafo.

“Já não acredito no amor…”

Por dentro de mim correu um frio. Vi-me quase a secar as lágrimas que rolavam pelo rosto da miúda, muito nova, talvez a passar pela adolescência.

Ali, frente a frente, os olhares cruzaram a coragem de dizer não, à incerteza da continuidade. Entre os consolos do amigo e o fungar da miúda, um amor morria por ali, na mesa de um café.

“Não acredito em ti!”

Como morrem tantos amores e se traçam tantos pontos finais, talvez para dar lugar às reticências.

Morrem, também, palavras de amor eterno e tantas promessas… às vezes preces e tudo isto, numa fase de grandes descobertas e contestadas dúvidas, onde se enfatizam as inseguranças e os medos. Onde cada um vive no seu mundo, circulando pelos amores dramáticos, sonhos e muitas expectativas. É a adolescência em tempo de primavera.

Vi-me nesse tempo, quando o amor assume todo o seu vigor e tudo se desmorona quando acaba ou não é correspondido.

O amor não está nos livros, mas escrever sobre o amor, ainda pode ser a única maneira de nos libertarmos e viver o direito à felicidade. Escrever na linha do tempo todos os capítulos e recomeços é ir refazendo o caminho, e, tantas vezes, como é doloroso este crescimento! perceber que os contos de fadas ficaram lá atrás numa espécie de limbo.

Esbocei um sorriso e continuei a sublinhar as frases de amor…

Afinal, quem não passou por estas reticências e chegou a tantos pontos finais… e recomeçou… recomeçou…

A beleza da adolescência está na capacidade de sonhar e recomeçar, mesmo quando tudo parece ruir. Os tempos áureos desta fase prepara-nos para tempos de escolhas e afirmação.

Olharam-se sem se verem e não houve um aceno, um amparo. O café esfriou.

Só um ficou na mesa com o vazio da despedida.

O mundo não desaba quando acaba um amor e nos vemos num barco à deriva. Não.

Todos os anos é tempo de amoras no silvado e primaveras amanhecidas.

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