Sentou-se numa mesa próxima da minha. Devagar, como se trouxesse um fardo agarrado ao corpo. Trazia um rosto contristado. Registei no seu olhar, uma penumbra e uma direção indefinida. Não pediu logo o café, esperava alguém.
Continuei com os olhos pousados nas frases sublinhadas – algumas ambíguas, de um livro sobre o amor. O amor que nos pode incendiar a vida, pôr de frente com a vida, viajar pela vida – uma busca constante… Um desafio!
Estávamos num café, um espaço exíguo, mesas muito juntas. Impossível não ouvir o estrondo da mágoa, que a voz da rapariga arremessou contra o rosto inquieto e pálido do então namorado – pelo que me apercebi.
Estremeci com o eco do desabafo.
“Já não acredito no amor…”
Por dentro de mim correu um frio. Vi-me quase a secar as lágrimas que rolavam pelo rosto da miúda, muito nova, talvez a passar pela adolescência.
Ali, frente a frente, os olhares cruzaram a coragem de dizer não, à incerteza da continuidade. Entre os consolos do amigo e o fungar da miúda, um amor morria por ali, na mesa de um café.
“Não acredito em ti!”
Como morrem tantos amores e se traçam tantos pontos finais, talvez para dar lugar às reticências.
Morrem, também, palavras de amor eterno e tantas promessas… às vezes preces e tudo isto, numa fase de grandes descobertas e contestadas dúvidas, onde se enfatizam as inseguranças e os medos. Onde cada um vive no seu mundo, circulando pelos amores dramáticos, sonhos e muitas expectativas. É a adolescência em tempo de primavera.
Vi-me nesse tempo, quando o amor assume todo o seu vigor e tudo se desmorona quando acaba ou não é correspondido.
O amor não está nos livros, mas escrever sobre o amor, ainda pode ser a única maneira de nos libertarmos e viver o direito à felicidade. Escrever na linha do tempo todos os capítulos e recomeços é ir refazendo o caminho, e, tantas vezes, como é doloroso este crescimento! perceber que os contos de fadas ficaram lá atrás numa espécie de limbo.
Esbocei um sorriso e continuei a sublinhar as frases de amor…
Afinal, quem não passou por estas reticências e chegou a tantos pontos finais… e recomeçou… recomeçou…
A beleza da adolescência está na capacidade de sonhar e recomeçar, mesmo quando tudo parece ruir. Os tempos áureos desta fase prepara-nos para tempos de escolhas e afirmação.
Olharam-se sem se verem e não houve um aceno, um amparo. O café esfriou.
Só um ficou na mesa com o vazio da despedida.
O mundo não desaba quando acaba um amor e nos vemos num barco à deriva. Não.
Todos os anos é tempo de amoras no silvado e primaveras amanhecidas.
Professora e Escritora