Não sou, ninguém é, contra os telemóveis. Não somos contra as redes sociais.
Mas somos, certamente, pela tranquilidade e silêncio que se impõe numa sala de espera de um hospital, quando alguém está doente. Aqui deve imperar o bom senso e respeitar a sinalética visível nas paredes. “Faça silêncio”.
Bem sei que já faz parte do nosso quotidiano ou até mesmo de um ADN recente. Já estamos habituados a este cenário nos locais mais inadequados e diversos. O que me parece fora deste contexto – talvez deste mundo, sejam os mais variados ruídos: o volume da voz exaltado quando fazem ou atendem as chamadas, o som estridente dos jogos, o sinal de notificações quando entram mensagens ou os vídeos humorísticos que todos temos que ouvir. Mas indigna-me mais o descaramento das conversas de conteúdo mais privado. Às vezes é deprimente observar esta dependência que nem a doença faz abrandar. Ninguém está ali à espera de assistir a um concerto, estamos à espera de ser vistos por um médico porque estamos doentes.
E com todo o alheamento do que se passa à volta é notório a indiferença.
Não fosse a senhora, de alguma idade, com maleitas à vista de todos, ter chegado. Uma criancinha que tossia compulsivamente nos braços da mãe e um jovem com olhar febril, eu diria que estávamos numa esplanada em solitário convívio.
A sala torna-se pequena e ficamos de pé encostados à parede. Alguns a suportar o incomodo e a dor. Percebi que precisavam de se sentar e dirigi-me a uma miúda que não parava de gesticular ao telemóvel com energia de adolescente, se cedia o seu lugar à senhora mais velha. Olhou-me como se eu tivesse saído de uma galáxia qualquer e continuou a tagarelar sobre a indecisão da cor do vestido para a festa de finalistas. Continuei a ver o teclar frenético e um olhar sumido numa sala que deveria ser tranquila e complacente.
E neste ambiente autista, ninguém cedeu o seu lugar a quem, para mim, estava verdadeiramente no lugar certo: a sala de espera de um hospital.
Alguém trouxe uma cadeira, a senhora sentou-se, respirou com esforço, recostou-se e ainda proferiu, com a sabedoria de quem já viu melhores dias, «o mundo está do avesso, não há respeito nem pelos doentes.»
O ruído sonoro incomodava, asseguro-vos, mas a indiferença doeu-me mais.
Bem sei que o uso compulsivo do telemóvel pode ser um escape à realidade e até nefasto para as relações pessoais e sociais. Preocupa-me uma sociedade completamente dependente de uma verdade virtual e inerte.
É urgente aprender a respeitar.
Professora e Escritora