As expressões culturais são inexistentes sem as pessoas, pois são elas que criam e recriam os traços de “culturalidade” que nos unem e diferenciam. E a agência humana (cultural) existe desde tempos pré-históricos.
É comum verificar que, ainda hoje, muitos “sítios antigos” habitam o imaginário quotidiano das populações rurais. É também normal perceber que, amiúde, aos sítios a que as populações ainda hoje ligam lendas houve, presumivelmente, presença humana antiga. A sua fórmula de explicação para o fenómeno é simples: “É antigo, é certamente do tempo dos mouros”. Mesmo tendo sido a presença moura tão reduzida no Norte português.
(Bizarras) narrativas populares justificam popularmente o que é antigo, mas demostram como estes sítios permanecem bem presentes. Sítios, lendas e pessoas marcam os lugares do passado numa paisagem em constante mutação. E, ainda assim, alguns destes lugares, pelas mais diversas razões, não perderam a sua importância cultural.
Caso curioso é o da arte rupestre. É normal que rochas gravadas com antigas “mensagens” perfilem lado a lado com representações recentes. Muitas vezes os pastores, deambulando entre montes, deixaram as suas marcas em rochas outrora escolhidas. Mas são raros os casos em que esta reutilização destrói ou desrespeita a integridade antiga.
Daqui decorre a perene harmonia presente/passado, gravando a forma como vimos e vemos, como representámos e representamos o que nos rodeia. As pessoas e as lendas tratarão, posteriormente, de eternizar (muitos) estes sítios.
Arqueólogo, Professor Universitário