Os propagandistas dos partidos políticos já nos entraram em casa pela televisão e vão andar por aí, na rua (tal como andavam as varinas de antigamente a vender peixe nas canastras), depois de nos debates televisivos nos terem dito… nada (do que seria suposto terem dito)!
As campanhas eleitorais estão à vista de toda a gente, mas nem toda a gente as vê com os mesmos olhos. Se há quem as veja como sessões de esclarecimento (que na verdade não passam de tentativas “inconseguidas”), também há quem as olhe como manifestação supra-terreal do seu partido, o qual abraçam com uma religiosidade doentia, vendo no seu líder uma deidade adorável e imbatível.
Cá por mim, enquanto “espectáculo”, considero as campanhas verdadeiros retalhos de “Stand up Comedy” do melhor que por aí se faz, com promessas hilariantes, desde ordenados chorudos, pensões de reforma altíssimas para toda a gente, baixa de impostos e subida da qualidade dos serviços públicos da saúde e do ensino, até à possibilidade (ainda não alvitrada mas que pode surgir a todo o momento) de o TGV nos poder levar de S. Félix da Marinha até à Lua em menos de três quartos de hora!… Com toda a certeza, haverá quem acredite!
Enfim… alguma propaganda política dá para rir… e eu divirto-me à brava.
O pior do riso da propaganda política é ele ser transformado em preocupação logo depois de constituído governo pela vontade popular, e assistir às discussões na Assembleia da República (AR) que a televisão nos trás a casa. As transmissões directas das acções parlamentares, se configuram transparência democrática, também me transmitem preocupação.
Não sinto que os deputados estejam ali para “pensar e resolver Portugal”. Não os vejo a falarem com a calma e a assertividade a que a sapiência obriga… (talvez por lhes faltar sapiência!).
Não analisam, cada um – com discernimento, seriedade e serenidade – as propostas dos outros para, só assim, se poder escolher o melhor para o país, cujo “melhor” pode não ser a nossa proposta, mas a do outro… e reconhecê-la como tal. Em vez disso procuram colocar a brasa debaixo das suas sardinhas, deixando o peixinho dos outros (e do Povo) totalmente cru!
Sou suficientemente ingénuo para pensar que a Política deve ser (OBRIGATORIAMENTE, APENAS E SÓ) exercida pelos melhores de nós!… Mas quando observo o panorama político (não só no meu país, mas no resto do mundo), deparo-me com presidentes rafeiros que prendem e matam os seus opositores e fazem guerra aos vizinhos; com outros que depois de perderem eleições instigam os seus adoradores a saquearem os Parlamentos; com ministros e deputados desonestos e malcriados que debitam discursos gritados, insultuosos e desrespeitadores dos pares.
A triste verdade é que elegemos “os piores de nós” para nos representarem!…
A saudável Democracia permite que haja quem conquiste lugares de liderança e tome assento na Assembleia Parlamentar com o intuito de destruir a liberdade que lhes deu voz. Nesse sentido, e na nossa Política caseira, estou a lembrar-me do caso da deputada Joacine Katar Moreira (JKM), guineense de nascimento e residente em Portugal desde os oito anos de idade, o que já a faz mais portuguesa do que africana. Foi eleita pelo partido Livre em Outubro de 2019, ao mesmo tempo que André Ventura (AV) o foi, então como único deputado do seu partido de extrema-direita.
Um dia discutia-se na AR a devolução de património às ex-colónias portuguesas e AV sugeriu que também JKM fosse devolvida “ao seu país de origem“. Era um insulto!… E o presidente da AR (Ferro Rodrigues) não tomou medidas castigadoras da verborreia do insultador!
Ao contrário desta inacção, o Parlamento Francês suspendeu por dois meses um deputado da Frente Nacional (partido de extrema-direita de Marine Le Pen, “madrinha” das acções de AV) por ter mandado um outro parlamentar “regressar a África“.
Na Alemanha, o partido nacionalista xenófobo Alternativa pela Alemanha, que desvaloriza os crimes nazis da última guerra, há bem pouco tempo estava em segundo lugar nas sondagens da intenção de voto, e defende a deportação de milhares de pessoas “para qualquer país africano”.
É sabido que os povos têm memória curta… mas é bom que se tome consciência disso para podermos ler as lições da História. Quando o Partido Nazi surgiu na Alemanha na década de 1930, era um movimento irrelevante… mas cinco anos depois foi o que foi e fez o que fez… com muito apoio popular em manifestações de rua!…
A história do Nazismo criminoso desilustrou a Humanidade e pode ser repetida a todo o momento porque a Democracia não é um muro intransponível; pelo contrário… por “tão democrata e benevolente ser”, abre as portas aos seus inimigos que a destroem por dentro tirando partido dos sentimentos mais baixos e básicos dos descontentes que acabam por ser manipulados sem desconfiarem que o são… o que é muito mais triste e grave!
Sendo a Democracia o melhor modo de governar (na afirmação de Churchill)… ela é “tão melhor” e tão respeitadora das liberdades, que até permite o acento nos Parlamentos àqueles que ali estão animados da intenção de terminarem com ela!… Só esperam que cresça a insatisfação popular (sempre assumida pelos eleitores menos avisados e pelos oportunistas sem critério Humanista) a qual “espicaçam”, para poderem chegar ao poder.
Hitler… um dos piores e mais tristes exemplos da espécie humana, para vergonha de toda a Humanidade ainda é adorado (assumida ou camufladamente) pela mais infame ralé que consegue sentar-se em Parlamentos democráticos.
Na espera da insatisfação popular, há sempre quem a promova para acelerar o processo – camuflado pela enganadora capa de “salvador”, como lobo ocultado em pele de cordeiro – armado em arauto de uma proclamada renovação e “limpeza”. Não são cópias fiéis de Hitler (que também “limpava” opositores e judeus), porque isso já não é possível com o mesmo figurino… são produto de uma versão martelada e adaptada ao tempo que também é outro… mas são igualmente péssimos e não prenunciam nada de bom. Por isso devem ser evitados.
Tenha cuidado na escolha do peixe que coooompra, ó freguêêêês!…
Jornalista/Cartunista