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Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

Nem todas as feridas precisam de pontos – Por Rosa Maria Aranha

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Rosa Maria Aranha
Rosa Maria Aranha
Advogada / Responsável pelo projeto StopViolênciaContraMulheres

As feridas precisam ou não de pontos, consoante a forma e a intensidade do relacionamento amoroso vivido, enfrentado e superado com o tempo.

Feridas que, dada a “superficialidade” da mágoa, dor e do corte tido com a relação não precisam sequer de pontos… feridas essas que a mente e o coração não aceitam e que rejeitam quaisquer pontos…

Ademais, existem feridas que, por si só, já há muito, se encontram cicatrizadas, em que o sangue bem avermelhado outrora derramado secou… e a dor anestisiou… sangue esse contido e envolto no coração do Amor…

Ora, relacionamentos amorosos que não foram abraçados por violência, tendem sempre a ser recordados com muita saudade, carinho, dignidade, respeito ou até como uma mera aprendizagem para relacionamentos futuros, entretanto vividos…

Na verdade, não podemos esquecer que existem relacionamentos amorosos que, após o seu fim, passados anos e anos, podem suscitar saudade do tempo vivido e passado a dois, em que cada um seguiu o seu “fado” e que por unanimidade ou não, ficou traçado deixar e permitir o outro “voar”… largar tudo e o outro por Amor…

Feridas de Amor são encaradas por um destino infindável e inacabado, em que cada um colidiu e eclipsou na hora menos acertada do relógio da vida amorosa, em que essa pessoa especial ora encontrada era a alma gémea um do outro … mas, lamentavelmente, cada um reconheceu que essa era a pessoa da sua vida, mas não para a sua vida, naquele local e preciso momento… quiçá num outro momento e local?!…

Essa ferida, a cicatrizar com o tempo, não necessita de pontos, porque a dor transforma-se em saudade, a angústia em esperança, a solidão em luz cintilante, a tristeza em perseverança, o destino em reencontro… e viver, calorosa e intensamente, o tempo deixado para trás…

O sentimento intensamente terno, diligente e meigo pode perdurar no pensamento, solene e silencioso, de ambos … em que esse tipo de ferida não aceita nem suporta pontos que cicatrizem num “tricotar fio a fio”, de um Amor vivido, sentido e aclamado outrora um ao outro, num passado não muito longínquo, e que, cada um anseia no seu íntimo e essência, desesperadamente, o seu regresso e reencontro…

As almas gémeas existem e quando aparecem devem ser mantidas, alinhadas e acauteladas, dado que perdidas uma vez e agora reencontradas, essas mesmas feridas deixaram de ser feridas e não necessitam de pontos, mas de uma cura, sã e saudosa, transbordada numa recordação encenada e coreografada pelos dois…

Nem todos os relacionamentos amorosos, felizmente, terminam em violência, mas em verdadeiros atos de Amor ao outro…

Permitir e deixar voar o outro é o maior ato de Amor demonstrado e que se encontra, silenciado e adormecido, no cofre do coração de cada um… cuja chave mestra dessa ferida saudosa se encontra na posse de ambos … a abrir, divina e entusiasticamente, a qualquer momento…

Abra o seu cofre do coração do Amor… a sua ferida não precisa de pontos, mas do reencontro há muito aguardado…

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