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Sábado, Abril 19, 2025

Metro de Babel – Por Miguel Correia

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Nem sempre estou aos comandos das composições do Metro do Porto (talvez um dia, aquela malta resolva pagar a publicidade que faço). Por vezes, resultado das deslocações sem serviço, há encontros imediatos de terceiro grau com os restantes passageiros e, talvez por isso, consiga ter uma noção clara do panorama que, por estes dias, caracteriza esta cidade.

O fenómeno social da emigração parece ter encontrado na cidade invicta a resposta a todos os problemas e, como tal, todos rumaram até aqui! Algumas comunidades primam pela descrição, mas outras dão a ideia, pelo aspecto miserável, que foram expulsos de onde estavam e recambiados para o país mais afastado (e pobre) da Europa! Se, num exercício matemático, juntarmos às novas comunidades a degradação económica interna, a equação dá um resultado que nenhum político quer ver, embora seja bem visível aos cidadãos locais e serviços noticiosos. Todos os espaços são aproveitados para pedir a bendita moedinha. Seja para ajudar no estacionamento da viatura, seja na entrada de um supermercado. Uma nova categoria profissional: organizador de espaços urbanos…

Sou da opinião que as composições deste transporte público devem ser objecto de um estudo social. Numa única viagem – entre algumas estações – é possível encontrar material de estudo para geografia, biologia, filosofia e até economia – se surgir a fiscalização podem incluir a educação física. Tudo isto com análise aos indivíduos que estão sentados ou agarrados ao varão (sem comentários!). Como todos ouvem mal (e a língua portuguesa está patente apenas nos anúncios sonoros) há uma panóplia de dialectos imperceptíveis aos demais. Assim, evitam-se discussões, resolvendo o problema da entrada e saída com recurso ao velhinho empurrão. Gesto prático e que poupa tempo. Se quiserem ir mais longe, na especialização em artes modernas do Metro, podem sempre estar atentos à antiga arte do gamanço – porque, por algumas vezes, alguns entraram com a carteira ou telemóvel, mas ainda hoje não sabem deles.

Não incluí, de forma propositada, para este estudo, a disciplina de cidadania. Escusado será dizer que, numa sociedade que perdeu todos os valores e educação, civismo é algo que apenas se encontra num dicionário.

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