Com as palavras sou um pouco, ou talvez muito, sensível. Tanto no
papel como online, tenho as minhas opções e os meus rituais.
Não sou de forma alguma ligada a “intelectualisses”. Estas
conduzem-me a um sono não justificado ao meio da tarde. As
notícias, levam-me sempre a estar acordada, a fim de conhecer
melhor o mundo. Há notícias e notícias.
A avó de José Saramago herdou apenas algumas palavras práticas
e um vocabulário elementar. Josefa viveu num tempo em que a
própria palavra “Vietname” nunca chegou à sua aldeia.
Atualmente, o mundo chega a todos os lados com uma velocidade
incalculável. Temos tudo à mão.
Por isso, será bom selecionar o que agrada, o que acrescenta, o
que constrói. Sendo assim, não haverá necessidade de critérios
de seleção? Gosto de privilegiar a escolha criteriosa, num tempo
em que o banal, o vazio, o inútil, se estendem à tecnologia, que já nem sequer dispensamos.
Vivemos um neo barroquismo emplumado, que pretende fazer de nós
bonequinhos distraídos. No Barroco, as igrejas eram ricas na talha
dourada e não era por acaso. Agora também não.
Para ultrapassar o desvario atual, temos que ter sonhos. Lutar por
eles para que as palavras ditas com tanta frequência – desigualdade, racismo, misogenia e homofobia não sejam apenas um postal ilustrado nas nossas vidas.
Não sou de maneira nenhuma niilista. Até gosto de festinhas,
bailaricos, feijoadas ao som dos batuques, mas existem produtos
tão indigestos que me obrigam logo a pedir um bom prato de
lucidez.
Desatino, ainda, com a banalidade das notícias de faca e
alguidar; fico com uma comichão mental que nenhum antibiótico
me poderá salvar.
O tédio existencial que leva as pessoas a deambular pelas ruas da
cidade à procura do nada, as casas de luxo, os alugueres de luxo
e até as sardinhas de luxo, quando saboreadas à beira-mar…
Fecundada, a palavra foi dada aos humanos e é o signo mais puro
da comunicação.
Será que está vandalizada a palavra? Será que está
vulgarizada?
Quem as maltrata? Quem não as sente? Na poesia, no romance, nas
notícias, na diversidade. Na vida!
