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Quinta-feira, Setembro 25, 2025

“És uma máquina” – Por Fábio Morgado

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És uma máquina” — era o que dizia o velhinho, quando via algum de nós, a dar conta de dez refeições ao mesmo tempo, e a fazer parecer fácil — na ponta da esplanada, exactamente por baixo de um dos famosos arcos da ribeira do Porto, tinha uma mesa reservada, com uma única cadeira, que há de ser dele, todos os dias.

Na única mesa da esplanada, que todos nós empregados de mesa sabíamos que não havia de render dinheiro algum, o meu amigo, que aprendi a chamar Guimarães, e ele a mim, não iria consumir nada. Mas as suas observações constantes acerca de tudo que pela sua cabeça lhe passasse, enquanto nos via laborar, enriqueciam o nosso dia mais do que qualquer trocado de turista que para as nossas carteiras, sabia à expressão: “o dia de hoje já está pago”.

E nestas coisas de ganhar os dias que nos foram dados de graça, assumindo a contradição da qual em frente do Miguel Esteves Cardoso, Agostinho da Silva deu conta nas Conversas Vadias: “Nascemos de graça, para passar o resto da vida a pagá-la” — sobra na maior parte das vezes muito pouco tempo ou paciência para dar atenção a esses laivos de pensamentos estruturados, que nos vão passando à frente dos olhos…

E o que eu queria mesmo abordar aqui é essa velocidade toda.
E deixar um reconhecimento ao Senhor Guimarães, que me deu mais em ideias do que as curiosidades que em conversa podemos abraçar.

Ora, tudo é rápido. Muito rápido.
Os serviços, as refeições, as amizades, a política…
Tudo, porém com os condimentos necessários e imprescindíveis para podermos equiparar isto a um McDonald’s da vida — A organização no meio do caos.

O princípio de Heisenberg a ser posto contra a parede, com uma adaga junto ao seu pescoço.
Escolhe incerteza, escolhe rápido — murmura-lhe ao ouvido.
Mas será que a lâmina está amolada?
Fast-food.
Hora de almoço.
Calor na chapa.
Pressão.
Fumo.
Suor.
Máquinas de fritar, barulhentas.
Avisos de cinco em cinco minutos.
Pedidos no ecrã. Tudo cronometrado.
A precisão? Olímpica.
É preciso cumprir os tempos!
O suor escorre.
O calor torna-se insuportável.
A tensão aumenta.
A pressão escala.
És uma máquina
Fábio Morgado´Recordem: É preciso cumprir os tempos!
Os tempos? Tornam-se objetivos.
Cumprem-se os tempos? Serão ainda mais rápidos!
Parece confuso? Não é.

Porquê? Existe organização. Cada um sabe precisamente o que tem que fazer.
E se todas as ferramentas e operadores estiverem disponíveis, meus amigos… é aqui que a probabilidade quase sai cortada e o caos ganha forma geométrica. Original e ao mesmo tempo, padronizada.
E nestas coisas dos lucros, o que se quer, é velocidade de ponta, e é por isso que temos levado algumas voltas de avanço da tecnologia nesta corrida.

Pois é essa mesma tecnologia que compõe a grande máquina que é operada por engrenagens, que com o tempo se enferrujam de apatia.
E depois, como se faz? – Pergunta o leitor. Substitui-se a engrenagem, e a que lá estava, pode voltar a ser pessoa, e entregar-se a um tempo — que na verdade, nada tem de absoluto. E isto não é relativo. O Senhor Guimarães, já sabia isso.

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