Não podemos continuar a fingir que podemos continuar a tomar decisões, sem saber o que as pessoas pensam delas, sem envolvê-las nelas. A política tem de ser mais transparente e mais aberta. A política atravessa uma séria crise de confiança.
Os cidadãos deixaram de acreditar, em parte, na sua utilidade. É necessário fazer ver que a política é necessária, existe para resolver os problemas concretos das pessoas e que muitos problemas só se resolvem, mudando o contexto em que fazemos as coisas.
É preciso a política estar em constante diálogo com os cidadãos.
Num estudo conduzido pelas Selecções do Reader’s Digest, os banqueiros conseguiram, pela primeira vez, igualar os políticos no fundo da tabela, tendo recolhido apenas 7% de confiança. O estudo revela ainda que a maioria não confia nos juízes.
Os sinais sentem-se na sociedade portuguesa, talvez se os políticos fizessem um exame de consciência e tirassem as devidas ilações da sua conduta.
Uma das cicatrizes(defeitos, impurezas) da nossa democracia é a tentação de utilizar a rede do poder para engendrar clientelas fiéis em função de um intercâmbio de voto.
A culpa é sempre dos outros. A classe política, com os seus comportamentos e atitudes tem levado ao divórcio entre os cidadãos e os políticos.
E, a melhor forma de incutir confiança e respeito é “o exemplo do nosso poder tem que ser igualado pelo poder do nosso exemplo”, as instituições públicas devem estar ao serviço das pessoas e não aos interesses e objectivos particulares e partidários.
Há gente que já perdeu a fé nos políticos e no país. Estão fartos de sorrisos brancos, fatos escuros, interesses obscuros, demagogia, broncas e insultos. Um palavreado contínuo, uma retórica brilhante vazia de conteúdo e inacção.
Como diz Michel Maffesoli, “o político é o contrário do que é a democracia; agora são uns poucos, uma aristocracia, quem governa”. Esta saturação e insurgência para com os partidos e políticos, além de levar à indiferença pode levar à ruptura do sistema.
Não deixa de ser curioso que os bombeiros, a maioria exerce esta profissão em regime de voluntariado, com poucas ou nenhumas benesses é a mais reconhecida e com maior confiança dos portugueses, ao contrário dos políticos, a maioria em regime efectivo com muitas e enormes benesses não têm a confiança e o reconhecimento das pessoas.
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores