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Quarta-feira, Março 26, 2025

De quem é o que é nosso? – Por Patrícia Mota de Almeida

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Existem dois tipos de pessoas: as que, quando gostam, partilham, e as que, quando
gostam, guardam só para si.

As primeiras vivem num diálogo permanente com o mundo. São publicitárias por natureza,
por isso, quando descobrem uma música que não conseguem parar de ouvir, têm como
prioridade colocar todos à sua volta a dançar ao mesmo som. Se provam algo de que
gostam muito, não descansam enquanto não estiver toda a gente a comer do mesmo prato
e, quando se apaixonam, precisam de garantir que o mundo sabe as feições da sua cara-metade. É então que a partilham nas redes sociais, para terem a certeza de que ninguém se esquece do peixe com quem nadam a par.
Estas são as pessoas que engoliram a palavra partilhar e só param de gritar o seu êxtase
quando ficam sem voz. É como se acreditassem que a felicidade só fica completa quando
ecoada e mais real quando multiplicada. Talvez procurem desafogar-se da própria emoção,
que é grande demais e não lhes cabe no peito.

O ato de partilhar pode ser euforia, pode ser altruísmo, pode ser medo também.
Têm medo de que, se o seu círculo não souber, a sua felicidade não seja tão verdadeira
como pensam. Precisam de um qualquer tipo de aprovação, por isso forçam a admiração
externa, para que se torne válido aquilo que estão a viver.

Já as segundas são, naturalmente, o oposto: falo das pessoas que se protegem do mundo.
Quando descobrem uma música que não conseguem parar de ouvir, ficam a absorvê-la em
“loop”, de porta fechada, para que sejam capazes de sugar tudo o que esta tem para lhes
dizer, garantindo que nenhum pormenor lhes é roubado por outros ouvidos. Afogam-se nos
seus filmes e livros preferidos e, quando se apaixonam, guardam a paixão e a pessoa em
segredo, porque, como nos diz a velha sabedoria popular, o que ninguém sabe ninguém
estraga.
Estas são as pessoas que cuidam na sombra, para que a felicidade não derreta à luz de
opiniões alheias. Guardam as suas pequenas conquistas como se de tesouros se
tratassem, acreditando que a magia se dilui quando dividida.
Pode ser egoísmo, isto de escolher guardar ao invés de partilhar, pode ser sensatez, mas
pode ser medo também.
Têm medo de que os sentidos dos outros não estejam alinhados com os seus e que essa
incompreensão externa torne o seu momento, a sua pessoa, o seu objeto, menos especial.

Recusam olhar de fora para aquilo que lhes traz felicidade, pois outras lentes poderão
detetar imperfeições, erros e defeitos naquilo que, para um único par de olhos, nada tem
de imperfeito, incorreto ou defeituoso.

Acredito que temos tendência para ser mais uma coisa do que outra, mas certamente
também existem os dias em que vestimos a pele que nos é, na maioria das vezes, oposta.
Posto isto, talvez só exista mesmo um tipo de pessoas, as que têm medo, e de resto vamos
saltando entre o eco e o segredo.

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