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Sábado, Julho 12, 2025

Aqui têm tomates – Por Pedro Albuquerque

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Aqui têm tomates. É que ainda têm tomates aqui. E que alegria esta, hein? Que alegria ver tomates nas hortas da Cedofeita. Que alegria ver pessoas em suas casas fazendo o jantar nas calmas do tempero, fazendo a sua última refeição no vagar do estrugido, alcançando a imortalidade.

Alegria esta de, por uma vez, não me ver rodeado de hotéis, residências e alojamentos. De não sentir, por dentro das veias, o cheiro a “fastfood”. Nada contra, mas que bom ver tomates nas hortas do Porto sem a preocupação de escorregar num desses pacotes de “ketchup” (de tomate feito lá fora), de tropeçar no lixo espalhado pelos passeios dos Aliados.

Que bom ver feijões e abóboras e ouvir os cães a latir em português suave. Que bom estar pela Cedofeita e cruzar as esquinas sem receio de enfrentar uma multidão guiada por um estrangeiro que nada sabe dos tomates do Porto. Porto que é Porto tem tomates. E podem rir, podem até acusar-me de qualquer coisa assim do nada muito. Podem concluir que este texto está escrito a la MEC¹ ou outro tipo qualquer.

Isto foi um pensamento a caminho do carro, numa zona de estacionamento gratuito que ainda há quem precise de guardar o carro na rua, no meio das hortas com tomates. A Cedofeita ainda cheira a Porto. Ainda cheira bem. Pronto… admito, que esta foi a la fadista. (Grande Anita!) Porém, este Porto em transição, parece estrangular a cada passo. Haja alguém que garanta as hortas, o estacionamento e a habitação a custo justo. Haja alguém que trabalhe para o bem comum. Gritai por ajuda. Há que salvaguardar o Stop², há que abraçar as peixeiras do Bolhão, há que falar àqueles que sempre nos vêm com a conversa de que precisam de pouco para apanhar o comboio para algures de lá de Campanhã. Essa é a população que precisamos de proteger.

Aliás, essa é a população a quem devemos respeito. Estagnar, não. Regredir, nunca. Desde quando um hipermercado substitui uma mercearia? Desde quando um aviário faz melhores ovos que um galinheiro de galinhas? E por falar em ovos… Os ovos de ouro estão na cesta da nossa cultura. É por aí que passa a saúde da população – na manutenção dos seus valores culturais. Há que preservar o passado. O passado faz o agora. E agora é altura de plantar tomates. Quanto mais não seja, para os atirarmos àqueles que tentam destruir, denegrir ou desvirtuar o Porto. Porto que é Porto tem tomates. Ainda…



¹ Miguel Esteves Cardoso.

² Centro comercial onde ensaiam uma boa parte dos músicos portuenses.

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