A Europa vive um dos períodos mais conturbados e perigosos, desde a 2ª Guerra Mundial. O Governo de Portugal, em particular, tem tanto, mas tanto, para resolver e um dos seus ministros traz para a ordem do dia a questão Olivença! Que chamar a isto? Incompetência? Falta de bom senso? Troca do essencial pelo acessório? Egocentrismo? Enfim, algum nome terá. E quantos portugueses (e oliventinos) estarão, neste momento, preocupados em (re)abrir a questão?
O que o Governo tem de explicar-nos é a razão de haver alunos sem aulas. E escolas sem professores. Hospitais que encerram, Justiça lenta e confusa. Professores constantemente insatisfeitos. Tal como enfermeiros. Jovens e habitação. E polícias. E outros. Tantos! O senhor ministro tem de assumir as suas responsabilidades e não vir com “jogos florais” para distrair o “pagode”… não é essa a sua função.
E como explica uma fuga de reclusos da prisão de alta segurança (pelos vistos, não o é) que tem, às dez da manhã, quatro guardas prisionais de serviço? As câmaras de vigilância desligadas? Uma rede eletrificada que, quando é posta a funcionar, afeta o quadro elétrico geral? E o assalto à secretaria do Ministério da Administração Interna? O que importa é Olivença…
Todas as pessoas minimamente interessadas pela História, conhecem a “Questão Olivença”e sabem que essa praça usurpada é portuguesa deste o Tratado de Alcanizes (1297). E da “Guerra Das Laranjas”. Deveria ter sido entregue a Portugal, pelo menos, após o Congresso de Viena, em 1815. E a Espanha comprometeu-se a fazê-lo. Mas não o fez.
O certo é que, nem Portugal reclamou muito, nem a Espanha teve pressa em ver-se livre “desse bocadinho”. E os oliventinos, totalmente integrados no país vizinho e na língua castelhana, estão-se nas tintas, é mesmo assim, para tudo isso. Querem paz, sossego e qualidade de vida. Há uns movimentos cá e lá que vão mantendo o tema aceso. No fundo, intelectuais que estão entretidos com essas temáticas. E fazem bem. O conhecimento da História é útil às populações.
Tem havido, ao longo do tempo, imensas oportunidades para os governos resolverem o assunto. E, no futuro, continuará a haver, com certeza. Tenho essa esperança. Mas este não é o tempo para pôr em causa relações ibéricas. Nem relações geopolíticas de qualquer espécie. Já temos conflitos suficientes a prejudicar o dia-a-dia das pessoas.
Corremos o risco de ter eleições, outra vez, num curto espaço de tempo, por causa do Orçamente de Estado. Os “duodécimos” pairam sobre as nossas cabeças. Precisamos, com urgência, de paz social e de um governo que consiga criá-la. A radicalização e polarização da Europa, assustam. Há um caminho estreito e difícil por percorrer até a sociedade acalmar politicamente, de modo a desprezar os movimentos radicais e extremistas. E é, justamente, neste período de “guerras frias” e “guerras quentes” que vem um ministro falar de Olivença! Ora que sentido de oportunidade!
Quem dirige o país, que o faça bem e pense nas pessoas. Isso sim, é importante para todos. Andamos na cauda da Europa há muito tempo, temos uma carga de impostos sufocante, salários indignos, pensões inadmissíveis. Não há um setor social que esteja bem (talvez o dos ministros e diretores gerais!). E vem um privilegiado elitista, membro do governo, falar-nos de um “pedacinho de terra” que nos é devida há séculos, a fim de desviar-se dos assuntos que, realmente, afligem.
Esqueça lá isso, Dr. Nuno Melo. Deixe Olivença para melhores tempos, ajude a criá-los. Para incentivar ódios, divisões e extremismos, já temos gente de sobra. Deste lado da fronteira e do outro.
Jornalista