Mais de cinquenta anos depois da sua estreia, a peça A Ilha dos Escravos retorna a Coimbra para uma reconstituição histórica que promete resgatar as memórias de um dos maiores desafios do teatro académico ao regime do Estado Novo. O espetáculo, programado para o 27 de março no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), será uma oportunidade para refletir sobre a liberdade de expressão, num momento em que o mundo assiste a desafios para a preservação de direitos fundamentais.
A peça, traduzida a partir do texto de Pierre de Marivaux, foi apresentada pela primeira vez pelo TEUC em 1969, sendo aprovada pela censura do Estado Novo, mas logo depois proibida em várias cidades, quando se percebeu a sua crítica velada ao regime. Em Coimbra, o espetáculo foi encenado com marionetas, uma escolha que, de acordo com os censores, disfarçava a carga subversiva da mensagem.
Agora, o coletivo Visões Úteis, em colaboração com o TAGV, o LIPA e o TEUC, traz de volta a peça com uma nova direção artística. A recriação da obra vai além da simples encenação; é um exercício reflexivo sobre como um espetáculo pode ser recriado e interpretado à luz de um contexto histórico diferente. Através de documentos e arquivos recuperados, como o guião original do TEUC, a peça vai ganhar vida novamente, com Joana Ferrajão à frente da direção artística e Carlos Costa como coordenador científico.
A trama, que segue os conflitos entre escravos e patrões numa ilha fictícia, usa o humor e a sátira para questionar as desigualdades sociais. A Ilha dos Escravos é, ainda, um lembrete da luta pela liberdade de expressão, tema mais pertinente do que nunca no mundo atual.
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