Habitualmente, hoje assistimos os casais a atribuirem a culpa de algum feito ou de alguma omissão um ao outro: “a culpa é tua! Não, a culpa é tua!
Na verdade, ninguém quer assumir a culpa de nada, nem sequer ser responsabilizado de nada.
A nossa sociedade, cresce de uma forma acelerada e muito satribulada que se relevam os princípios e valores de outrora. A competitividade é atroz, tão cutilante e falaciosa que as pessoas vulneráveis, inseguras e incompetentes pretendem obter o seu melhor benefício em proveito do outro. A mentira, a falta de lealdade, a omissão na transmissão do saber trilha e está presente no dia-a-dia das pessoas, as quais têm de lidar e, arduamente, enfrentar para conseguirem vingar no mundo do trabalho: o engodo e a projeção de um emprego seguro e a preservar é deveras muito difícil de encarar, pelo que as pessoas usam “armas e ferramentas” que a ninguém lembram … em proveito próprio e em prejuízo do outro…
Esta vivência no trabalho transborda abruptamente, abrange e agluta incessantemente a vida amorosa no seu todo. Por vezes, torna-se difícil discernir e “separar as águas” da vida laboral da amorosa, porque aquela absorve a vida desta de tal forma que levam a precários e falsos relacionamentos; e estes embarcados em relações de manifesto ataque e defesa de um contra o outro, onde nenhum consegue carregar no botão do off, continuando ambos sempre em modo de on e em constante espiral… um autêntico ataque e contra-ataque…!!!
Ademais, na sociedade em que vivemos, a vida amorosa tem uma ocupação temporal tão irrisória e insignificante, que estando inserida num défice de conhecimento do outro na sua verdadeira essência, refletida no parco crescimento de sentimentos …, ao tropeçarem num grão de areia que encontrem no caminho, fazem transparecer e crer que estão perante uma duna… tempestade na areia…
Na verdade, a culpa é sempre dos dois!!!
Nunca por nunca é de um só!!!
Ora, porque um fez e o outro permitiu, ora porque um não fez e outro não se importou…
Tais realidades nenhum deles viu, vê ou nem verá porque cada um esteve, está e estará envolvido na sua verdade ou mentira do outro; isto é, na culpa do outro e na sua própria inocência.
Acresce que, a vida leva a que cada um crie a sua defesa perante o outro, a que nenhum permita a “baixa da guarda”, talvez por medo e receio de se tornar vulnerável ou frágil perante o outro.
Pondero e penso seriamente de que a sociedade está a criar e a desenvolver pessoas com padrões e estereótipos sem quaisquer princípios e valores, o que torna complicado incitar e emergir um relacionamento sério, verdadeiro, honesto e saudável …
Que saudades da leitura do final dos nossos contos infantis:
“viveram ou foram felizes para sempre“.
Torna-se deveras penoso que os jovens e adultos até se relacionem e pensem à priori que nada é eterno, tudo é efémero e que iniciem um relacionamento sob a mira de que caso não vingue, haverá sempre uma solução: a rápida separação (bloqueio instantâneo no Whatsap, Instagram ou Facebook) ou um simples e vil divórcio (sem meros rodeios e justificações, simplesmente dizem: “não dá”).
Eu sinto e consubstancio que as pessoas vivem e andam na vida por viver, sem princípios e valores, ultrapassam tudo e todos, encaram o outro como apenas um outro, sem qualquer pudor ou escrúpulos; e, indubitavelmente, são poucas as pessoas que agarram a vida com entusiasmo e vontade de viver em toda a sua plenitude, luminosidade, transparência e energia viva.
Acontece que, salvo a minha modesta opinião, algumas pessoas vivem cada segundo intensamente porque sentiram a vida a esferir-se e a esfumar-se pelos dedos, quer por terem enfrentado uma grave doença ou então, por terem vivido a perda de um ente querido…
Na verdade, cada um deve de parar para pensar e refletir a vida que leva e para onde quer ir… o trabalho não é tudo… a vida vai para além disso…
A vida é esplêndida, mas curta e é só uma!
A vida é para ser vivida, entusiasta e intensamente, e não para armar ciladas e atrocidades ao outro, ou simplesmente culpar o outro, seja na vida laboral ou na vida amorosa… não é esse o caminho a seguir e a percorrer nesta vida…
Pense e reflita… não culpe o outro… ainda vai a tempo de mudar algo no trilho e caminho que segue e percorre…
Advogada / Responsável pelo projeto StopViolênciaContraMulheres