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Quinta-feira, Outubro 9, 2025

Antes de votar, pense: o que está mesmo em jogo? – Por José Paulo Santos

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Por um cidadão que já não se cala — e que convida os outros a pensar

Nas próximas eleições autárquicas, vai escolher quem governará a sua terra nos próximos quatro anos. Talvez já tenha decidido em quem votar. Talvez ainda esteja indeciso. Ou talvez nem vá votar — afinal, “todos são iguais”, dizem muitos.

Mas, e se lhe disser que o seu voto decide muito mais do que o arranjo da praça ou a festa de verão?

Decide se a escola do seu filho terá refeitório seguro. Se a estrada que liga a sua aldeia ao hospital será recuperada a tempo. Se haverá água potável quando o calor apertar. Se os idosos do bairro terão transporte para as consultas. Se os jovens terão emprego, formação, futuro.

Isto não é retórica. É o dia a dia da governação local. E governar bem exige mais do que boa vontade. Exige conhecimento, responsabilidade e respeito pelas regras.

Nos últimos anos, surgiram centenas de novos candidatos, muitos sem qualquer experiência em associações, movimentos cívicos ou cargos públicos. Alguns nunca participaram numa reunião de junta de freguesia. Outros confundem funções básicas: acham que a câmara manda na GNR, ou que pode “dar” casas a quem quiser, sem seguir leis.

Há candidatos — sobretudo em partidos como o Chega — que se orgulham de “não ter estudos” como se isso fosse uma virtude. Mas governar não é contar histórias à lareira, nem beber uns copos na taberna. É gerir milhões de euros, cumprir normas europeias, contratar técnicos, prevenir incêndios, tratar resíduos, planear o futuro. É extremamente exigente e complexo!

E quando alguém sem preparação assume esse cargo, os erros não são só dele — são de todos nós.

Em 2022, uma câmara do interior autorizou a construção de casas numa zona de risco de incêndio, sem estudo ambiental. Dois anos depois, tudo ardeu. As famílias perderam as casas, as poupanças, a segurança. O presidente da câmara disse: “Só quis ajudar. Não sabia dessas regras.”

Mas “não saber” não é desculpa quando se governa. É negligência. E a negligência mata — por vezes, literalmente.

Porque o sistema permite. Em Portugal, qualquer pessoa com 21 anos pode candidatar-se a presidente de câmara, mesmo sem saber o que é um orçamento municipal, um plano de ordenamento ou um regulamento de resíduos.

E porque muitos eleitores, desiludidos com a política, pensam: “Pelo menos este não é um político de carreira.”

Mas não ser político de carreira não significa ser competente. Pode só significar que nunca foi posto à prova.

O filósofo Karl Popper escreveu que a democracia não é perfeita — mas é o único sistema em que podemos mudar os governantes sem violência. Só que isso só funciona se escolhermos com critério, não com raiva, amiguismos, compadrios, saudade ou impulso.

Meu caro leitor, não precisa de ser especialista. Mas pode fazer perguntas simples, antes de votar:

1. Este candidato já fez alguma coisa pela comunidade antes de se candidatar? (Participou em associações? Defendeu causas locais?)

2. Tem um programa com ideias concretas — ou só críticas aos outros? (Promete “mais emprego” — mas como? Com que dinheiro? Com que parcerias?)

3. Respeita todas as pessoas — mesmo as que pensam diferente? (Cuidado com quem fala mal de imigrantes, ciganos, pobres ou “elite” como se fossem inimigos.) Falar mal dos outros, não é inteligência! E este não merece o nosso voto!

4. Sabe o que é governar? (Pergunte-lhe: “O que é o PDM?” ou “Como se usa o dinheiro da União Europeia?” Se não souber, pense duas vezes.) Porque, pense bem, é mesmo isto que afeta a sua vida, a sua terra!

Não se trata de escolher o mais carismático, o mais parecido consigo ou o que grita mais alto contra os “corruptos”. Trata-se de escolher quem tem capacidade, seriedade e integridade para cuidar do que é de todos.

O historiador Timothy Snyder lembra-nos: “As democracias não caem de um dia para o outro. Caem quando os cidadãos deixam de exigir responsabilidade.”

Nas eleições autárquicas, você não está só a votar num nome. Está a escolher o futuro da sua rua, da sua família, da sua terra, dos seus filhos, netos.

Por isso, não vote com o coração fechado. Vote com os olhos abertos.Com as perguntas feitas. Com a consciência alerta.

Porque, no fim, não será o candidato que pagará o preço da sua ignorância — será você, a sua vizinha, o seu filho, a sua vida!

E isso, sim, é uma responsabilidade que não se delega.

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