A morte de Rui Mingas no passado dia 4 de Janeiro, data em que Angola recorda e celebra os “Mártires da Repressão Colonial”, com os acontecimentos da Baixa de Cassanje, continua a ser motivo comoção por parte da comunidade angolana residente em Portugal.
A importância do papel de Rui Mingas como pessoa, músico, desportista, diplomata e de nacionalista fazem dele uma pessoa especial e que ficará para sempre na história de Angola.
Rui Mingas, recordo, além de brilhar no atletismo português no período que vai de 1950 a 1960 (pouco antes do início da luta armada de libertação nacional em Angola) chegou a representar as cores do Sport Lisboa e Benfica e foi igualmente professor de educação física na zona de Almada.
O seu papel como nacionalista foi marcado pela música. Mingas fazia passar a mensagem de muitos seus compatriotas que escreviam textos poéticos chamando a atenção para a necessidade de uma Angola independente e livre do regime colonial vigente até ao surgimento da Revolução dos Cravos, no dia 25 de Abril em 1974.
Como político e diplomata também fez o seu percurso, chegando mesmo a ser um dos principais rostos no processo de iniciação das negociações para a independência de Angola. Mais tarde e como embaixador acreditado em Portugal foi peça relevante nos acordos de Bicesse.
Na passada segunda feira em Lisboa, na Basílica da Estrela, o velório de Rui Mingas juntou muitas individualidades e amigos que puderam abraçar e cumprimentar os seus familiares. Foi a derradeira homenagem a um dos mentores do Hino Nacional de Angola.
Vale salientar que o momento foi também marcado com o trovador Kizua Gourgel, sobrinho de Rui Mingas por sinal, a interpretar alguns temas musicados pelo seu falecido tio.
Um dos filhos ilustres de Angola
Natural de Luanda, Rui Alberto Vieira Dias Rodrigues Mingas, nasceu a 12 de Maio de 1939. Na juventude distinguiu-se no atletismo, designadamente nas especialidades de salto em altura e 110 metros barreiras.
Militante activo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Rui Mingas desempenhou os cargos de deputado e foi ministro dos Desportos.
Como músico, compôs poemas dos poetas angolanos Viriato da Cruz, Agostinho Neto – primeiro Presidente de Angola -, Mário António e António Jacinto. Foi coautor com Manuel Rui Monteiro de “Angola Avante”, o hino de Angola.
Da sua obra discográfica destacam-se “Cantiga por Luciana”, “Poema da farra”, “Makezu”, “Muadiakimi”, “Birin birin”, “Monagambé”, “Adeus à hora da partida” e “Meninos do Huambo”.
A embaixadora de Angola em Portugal, Maria de Jesus Ferreira, considerou Rui Mingas como “um dos filhos mais ilustres” do país.
“Nesta hora de dor e luto, endereço em meu nome pessoal, no da minha família e no de todos quantos trabalham na Embaixada da República de Angola na República Portuguesa, as minhas condolências na certeza de que o nosso País perdeu um dos seus mais ilustres filhos e na esperança de que o seu exemplo de distinto nacionalista inspire as gerações atuais na criação de uma Angola unida, próspera e cada vez melhor para todos nós”, pode ler-se na nota de pesar diplomática endereçada à família.
Sendo um ilustre angolano, não deixou de marcar também Portugal. Por exemplo, sem que o público português o soubesse, o mesmo interviera de forma marcante na música portuguesa. Por exemplo, apresentou aos Sheiks de Carlos Mendes e Paulo Carvalho o clássico Summertime, de George Gershwin.
Ou também não menos marcante, quando o mesmo actuou em 1969 no Zip Zap, no histórico programa da RTP apresentado por Fialho Gouveia, Raúl Solnado e Carlos Cruz.… e a acompanhá-lo nas percussões estava Bonga!
Texto: Jorge Madeira e Pedro Nogueira Simões Foto: D.R