Entre as propostas que compõem o “caderno de encargos”, salta à vista a componente social. Com todas as preocupações inerentes à gestão e tão importantes quanto estas, para Nuno Lobo, são as pessoas, os sócios do FC Porto, principalmente.
“Um dos nossos objetivos é aumentar o número de associados. Não se pode aceitar que no Dragão Arena, num jogo de hóquei em patins estejam tantos adeptos do FC Porto quantos os da equipa adversária e ver uma bancada vazia. Por que razão, neste tipo de jogos, não são convidadas as escolas do Grande Porto? O FC Porto tem de ter “sangue novo”. E só as casas do clube não são suficientes….”
E não é só no Dragão Arena…
“Pois não, no Estádio da Dragão também acontece. Temos de envolver toda a cidade, todas as cidades da zona envolvente, que têm muitos adeptos portistas. No estádio, naqueles jogos em que se sabe que a afluência de público é menor… Quando um clube desta dimensão não consegue encher um pavilhão, algo vai mal“.
Haverá algum laxismo da parte dos dirigentes das modalidade de pavilhão?
“Não. Não acredito que as pessoas que lutam pelas modalidades tenham perdido o amor por elas.”
O discurso de Nuno Lobo continua a pautar-se pela necessidade de envolver pessoas e prestar mais atenção aos sócios. Para que o seu número aumente.
“Há também a questão da bilhética. Muitas pessoas, eu incluído, gostaríamos de ter também um lugar anual no pavilhão – tendo já vários lugares anuais no estádio – mas o peço é proibitivo para grande parte das famílias. Ter bilhetes anuais para o núcleo familiar fica extremamente oneroso. O FC Porto deveria apoiar as famílias portistas, praticando preços que elas pudessem pagar. A união da “Família Azul e Branca”. É mais uma das nossas propostas“.
Entende, então, que atualmente os responsáveis pelo clube dão pouca importância aos sócios?
“Há apenas interesse financeiro. Não pensam nas pessoas. É preciso trazer gente ao estádio. Proponho as escolas porque são jovens e está aí o nosso futuro. O nosso clube não acaba amanhã, é para sempre, pelo que devem ser criadas condições que permitam aos jovens e às famílias virem ao estádio e ao pavilhão. Tem de haver essas sinergias e eu sinto que as não há. É uma das nossas prioridades.”
FUTSAL
Uma das propostas que o programa de Nuno Lobo contemplava nas anteriores eleições era a introdução do futsal no clube. Esta continua a ser uma das modalidades-chave da candidatura. O candidato explica a importância da modalidade.
“Não é compreensível num país que é campeão da Europa e do Mundo em futsal, com pavilhões quase sempre lotados…é inacreditável que em 2024 o FC Porto não tenha a modalidade. Só pode ser por birra de alguém da direção. Só pode ser. Há um clube no Minho que tem basquetebol, futsal, andebol e futebol, com equipas sempre competitivas. Não hã razão nenhuma que justifique o FC Porto não ter”.
Uma lacuna, entre várias, que preocupa o candidato à presidência. Lobo sente ter condições para alterar esta espécie de marasmo
“Sem menorizar as modalidades que o FC Porto tem, o clube já foi muito mais eclético. Tem vindo a perder essa caraterística. Custa-me muito assistir a isso. Tenho a certeza absoluta de que o futsal ia trazer muito mais gente ao clube e, por consequência, mais sócios. E é isso que nós queremos fazer”.
FUTEBOL FEMININO
Outro assunto essencial é o futebol feminino. Há muito que Nuno Lobo gostaria de o ter no clube.
“No programa de 2020 alertámos para essa falta que consideramos essencial. Vemos os nossos rivais há uns anos para cá com o futebol feminino no topo. Será que tenho de utilizar como argumento os perdões fiscais, judiciais, perdões disto, perdões daquilo para encontrar a razão pela qual os rivais têm a modalidade em alta?…
Será isso?…
“Não sei. Vejo outras equipas com uma grande superioridade ao nível do ecletismo; vejo o FC Porto no bilhar, hóquei em patins e voleibol feminino. Não me esqueço de que o voleibol masculino foi dos mais bem sucedidos, em títulos, a nível nacional. Agora, não há dinheiro para nada, nem para as modalidades, nem para o futebol… O FC Porto, connosco, traçará novos rumos. Assim como está, preocupa-me muito”.
AVB
Incontornável nesta conversa com Nuno Lobo, falar de André Villas Boas (AVB). Putativo candidato e que, aos órgãos de comunicação social tem feito algumas críticas à atual direção do clube e da SAD e apresentado possíveis propostas. A última tem a ver com o centro de estágio. Nuno Lobo, não acredita em grande parte do discurso de Villas Boas.
“Essa tirada do André Villas-Boas não sei se não será mais um “bluff”. Mera propaganda. Gostava que ele, em primeiro lugar, se definisse como candidato e, depois, chegasse juntos dos sócios e apresentasse tudo isso de que tem falado. Assim, não passam de “bocas”. Gostava de ver a realidade. Palpável. Os tais 340 metros, já terá resolvido com os proprietários? Irá expropriar? Comprá-los? Com que dinheiro? Do clube? De algum parceiro? Se fosse outro candidato a dizer essas coisas, consideravam teorias da conspiração. Mas tudo o que o AVB diz é aceite pelos sócios sem questionarem seja o que for.”
E também falou das claques. Concorda com a posição dele?
“Custa-me ouvir falar assim porque eu fiz parte das claques do clube. O AVB não foi muito explícito e utilizou adjetivos que não dignificam uma pessoa que quer ser presidente do FC Porto. Quando chama “guarda pretoriana” à claque, não serão os mesmo que estiveram ao lado dele em 2011 nessa caminhada pela conquista da Liga Europa? Então nessa altura eram importantes e, agora, quer extinguir? Os que lhe serviram em 2011, agora já não servem? Podia e devia ter usado outro tipo de linguagem.”
Vejo que tem uma visão totalmente diferente..
“Já dialoguei com a claque em 2020 e vou voltar a dialogar. Marcar uma reunião com o senhor Fernando Madureira em primeiro lugar, em vez de proferir insultos na praça pública. E dizer-lhe o que pretendemos da parte deles. Falar, homem para homem e depois tomar as decisões. Não é fazer um corte como o AVB fez! Só veio criar mais divisão no seio dos portistas. É nesta espécie de prepotência que não me revejo em AVB.”
O amor de Nuno Lobo é tão grande, nota-se-lhe no olhar, na forma como fala do clube e dos seus sócios e na preocupação em ser construtivo. Ser presidente do FC Porto nunca será uma cadeira de sonho para si, Nuno Lobo?
“Nunca, O FC Porto nunca será uma “cadeira de sonho” porque o que eu sinto pelo FC Porto é amor. Como afirmou o Jorge Costa que nunca iria trabalhar no Benfica ou Sporting. É nestas afirmações que me revejo. Em portistas como o João Pinto e outros. Não trocaria o FC Porto por nada. Para quem o ama, o FC Porto não tem preço.”
Acha, então que o AVB, ao deixar a que apelidou de “cadeira de sonho”, atraiçoou o clube?
“No ano em que foi embora tínhamos as expetativas no máximo. Foi embora porque alguém ia deixar dinheiro no clube. Mas isso é o normal! O que deveria ser normal, sair e o clube ser ressarcido. Mas essa prática não tem acontecido ultimamente e é muito mau que assim seja. Será AVB adepto dessa gestão de saídas a custo zero? A justificação dele não me satisfez quando saiu. Deveria ter feito um comunicado para os sócios e explicar com clareza a razão por que abandonou o FC Porto. Toda a gente entende que há oportunidades imperdíveis na vida profissional, mas devemos explicar, já que ocupávamos “uma cadeira de sonho”.… Há dias encontrei o Ivo Rodrigues, nosso antigo atleta que me disse que na Arábia ganha mais em ano e meio do que em 10 ou 12 anos de carreira. A célebre frase, “não me cortem as pernas”. Se calhar AVB também a terá dito. Mas devia ter sido mais franco para os sócios.”
Mas tem todo o direito a querer voltar…como presidente
“Claro que sim, se preenche os requisitos, claro que sim. Embora, na minha opinião, não o devesse fazer sem saber se Pinto da Costa se recandidata ou não. Foi o atual presidente quem lhe deu a grande oportunidade de treinar o FC Porto, oferecendo-lhe uma extraordinária equipa. Se assim não fosse, não chegaria à tal “cadeira de sonho”. Deveria concorrer, apenas quando Pinto da Costa decidisse abandonar a presidência. Dada a relação entre ambos, acho que não lhe fica bem concorrer contra Pinto da Costa.”
PINTO DA COSTA E O FUTURO
Também não podíamos deixar de falar no presidente Pinto da Costa. O atual presidente ainda não decidiu, ou pelo menos não anunciou se vai candidatar-se. A decisão não modifica nada na posição de Nuno Lobo. Apenas refere a tristeza com que vê a forma incorreta e irresponsável de alguns; “tudo lhes serve para atacar o presidente” – diz.
“Sempre defendi uma política de livre debate de ideias. Infelizmente, nos últimos tempos, temos assistido a uma agressividade verbal, inaceitável, contra Pinto da Costa. Custa-me a violência, verbal ou outra. Nada tenho contra o presidente e recuso-me a usar essa linguagem agressiva. Sou e serei eternamente grato a Jorge Nuno Pinto da Costa, mas não sou refém dessa gratidão. Apresentaremos propostas credíveis. Temos o programa feito a três meses das eleições. Não propomos ideias avulsas. O programa existe!.”
Parece-lhe que Pinto da Costa deve concorrer de novo?
“Eu só não queria ver o presidente sair pela “porta pequena”. Se quiser ter uma voz ativa e se pensa ser eleito não é com o elenco diretivo que tem neste momento. Apresentando os mesmos rostos, profundamente desgastados na SAD, tenho muitas dúvidas.”
MANDATOS E SALÁRIOS
As longas presidências, mandatos sem limite, altos salários e prémios pagos a administradores são alguns dos aspetos críticos de quem acha que o ciclo de Jorge Nuno Pinto da Costa deve findar. Nuno Lobo não “dispara para o ar”. Procura ser assertivo e coerente.
“O nosso programa defende limitação de mandatos. E também racionamento dos valores pagos a administradores da SAD. Não posso avançar com a fórmula para isso na comissão de vencimentos, uma vez que não é a minha área profissional. Mas na equipa que compõe a lista temos profissionais competentes na matéria. E a vontade é essa. Baixar os salários. Porque os vencimentos dos administradores da SAD são um atentado ao clube. Com tantas dificuldades que as pessoas têm para pagar quotas e ir aos jogos e com tantas dificuldade do clube para contratar jogadores e fazer face aos compromissos, essas verbas são escandalosas e tem de ser racionadas.”
Texto: Alberto Jorge Santos / Foto e vídeo: António Proença / Montagem: Filipe Romariz
Jornalista