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Sexta-feira, Novembro 7, 2025

Ser professora é um verbo no presente e cheio de passados com olhos no futuro

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Ser professora é viver num tempo que não cabe nos relógios. É acordar todos os dias para o presente — esse instante onde tudo acontece, onde o erro e o acerto se misturam, onde o riso de uma criança consegue apagar o cansaço. O presente é o nosso território, o palco onde se repetem gestos que nunca são iguais: abrir o livro, chamar um nome, explicar de novo, ouvir uma pergunta inesperada que muda o rumo da aula.

Mas o presente de quem ensina é feito de muitos passados. Há o passado de cada professora — as turmas que já passaram, as histórias que nos ensinaram mais do que qualquer manual, os olhares que ainda reconhecemos quando voltamos a certas salas. Há também os passados dos meninos e meninas que cruzaram o meu caminho, cada um trazendo consigo uma história, uma família, uma forma de estar no mundo. Uns traziam sonhos maiores do que eles, outros, feridas que não se viam. Uns deixaram gargalhadas que ainda ecoam, outros deixaram silêncios que continuam a ensinar. Todos passaram e ficaram um pouco — nas memórias, nas aprendizagens, nas pequenas marcas invisíveis que me lembram porque escolhi ser professora.

Ensinar é, de certa forma, conversar com todos esses passados. Quando um aluno me pergunta “porquê?”, vejo o reflexo de mim própria quando também queria compreender o mundo. Quando um grupo se desentende no recreio, lembro-me de como é difícil aprender a conviver. Quando um aluno lê em voz alta, reconheço o milagre silencioso de transformar letras em sentido. E tantas vezes me emociono, sem nenhum deles perceber…

O presente é um laboratório de emoções, de tentativas, de paciência. É o tempo onde se aprende que a pressa não ensina, que o ritmo do outro merece respeito, que o gesto mais simples pode mudar o dia de alguém. Às vezes basta um elogio tímido, um olhar de cumplicidade, um “vamos fazer de outra forma”. Outras vezes, é o silêncio que ensina — aquele instante em que percebemos que crescer dói um bocadinho, mas vale a pena!

E, mesmo mergulhada nesse agora, é impossível não olhar o futuro. Cada criança é um fragmento de amanhã, uma promessa em construção. Quando ensino a ler, não dou apenas palavras — dou a chave para entenderem o mundo. Quando aprendem a fazer contas, estão a aprender também a pensar com lógica, a encontrar soluções, a acreditar que há ordem possível no caos.

A escola é o lugar onde o futuro se treina todos os dias — entre risos, lápis, cadernos, livros e todo o material escolar e, muitas descobertas. É onde nascem curiosidades, perguntas sem resposta, pequenos sonhos que ainda não sabem o seu tamanho. E é também onde eu, professora, aprendo a esperança: a arte de acreditar que cada semente lançada no presente pode florescer um dia, mesmo que longe do meu olhar.

No fim do dia, quando regresso a casa, aprecio o silêncio… E é nesse momento que percebo que ser professora é um verbo que se conjuga em todos os tempos.

Fui, porque tudo o que vivi me trouxe até aqui. Sou, porque é neste instante que o ensino acontece — vivo, imperfeito, humano. E serei, porque cada aluno que passa por mim leva um pouco do que sou, e isso é continuar, mesmo quando o tempo avança.

Ser professora é acreditar, todos os dias, que o mundo pode começar outra vez!

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