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Quinta-feira, Janeiro 23, 2025

São Gonçalinho : “Na cidade de Aveiro vai haver chuva de cavacas” – Por Rosa Fonseca

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Rosa Fonseca
Rosa Fonseca
Professora e Escritora

No bairro mais emblemático da cidade de Aveiro – Bairro da Beira Mar, de braço dado com os canais da Ria, os festejos a São Gonçalinho, são uma expressão de «alegria» a inundar de calor os janeiros frios da cidade. Este ano, o calor inicia-se hoje, dia 9, e prolongar-se-á até dia 13 de janeiro de 2025.

Segundo fonte histórica, o santo amarantino, dominicano, da primeira metade do séc. XIII, passou por Aveiro e deixou-nos um legado que ainda hoje se respira nesta zona ribeirinha: a alegria no rosto das suas gentes. Gente que via partir os seus homens para o mar e mantinha a esperança do regresso… Ao santo se faziam preces e promessas que se cumpririam durante os festejos.

Por estes dias, apesar do frio e chuva, segundo as previsões, são muitos os visitantes que rumam a Aveiro para cumprir promessas de uma forma única: com cavacas. Do alto da capela são arremessadas algumas toneladas de cavacas que voam como pássaros e aterram na calçada escorregadia sobrevoando as cabeças dos menos cautelosos.

Esta romaria tem vindo a ser uma atração turística. Uma festa que mobiliza, não só uma cidade, mas uma região inteira.
Há nestes festejos um misto de religiosidade cristã e rituais pagãos, interessantes do ponto de vista sociológico que vale a pena pesquisar.
Curiosamente, os devotos de São Gonçalinho, ou “menino” como lhe chamam carinhosamente, dizem ser este santo, muito vingativo – pelo sim pelo não, mais vale cumprir o prometido, não vá o “menino” fazer das suas…

E é aqui que entram as tradicionais cavacas de São Gonçalinho, um doce coberto com açúcar. Podem ser redondas e moles ou alongadas e bastante duras. São estas, as mais temidas pelos romeiros. Lançadas a partir do corredor lateral à volta da cúpula, durante os festejos, podem ser uma arma temível. Para proteger as cabeças mais incautas e narizes protuberantes, torna-se pertinente abrir os guarda chuvas e camaroeiros.

Outras tradições se cumprem dentro da capela setecentista: a entrega do ramo e a “dança dos mancos.”

A entrega do ramo é a passagem de testemunho aos mordomos encarregados da romaria do ano seguinte, o que se reveste de um valor meramente simbólico.
A tradição da dança dos mancos é caraterizada de um grande secretismo, sendo um ritual masculino.

As festas de São Gonçalinho, continuam a ser um marco cultural e social na cidade de Aveiro.
Apesar de vivermos um tempo de desvalorização de algumas tradições, vemos neste bairro uma obediência secular a estes ritos, com o objetivo de perpetuar as memórias e a História. Atualmente, são cada vez mais os jovens a terem um papel relevante ao longo do ano na preparação destes festejos. Importa referir os mordomos de São Gonçalinho – um grupo de pessoas jovens que se dedicam durante o ano, ativamente, a desenvolver diversas atividades dedicadas à cidade e às festividades, não descurando a sua ação de destaque na área social, mais incidente na solidariedade.

Pelas ruelas estreitas cruzam-se rostos em festa e afluem vozes e histórias de um “menino” prazenteiro, brincalhão, dançarino, casamenteiro, mas com um lado vingativo, como reza a ladainha popular.
Vamos então abraçar os festejos como quem abraça o menino.
Saudemos o nosso santinho e brindemos com um Licor de Alguidar e uma cavaca.

Uma curiosidade: O clube da cidade, o Sport Clube Beira-Mar, costuma ganhar neste dia. Mérito do santo!?
Ai Sim, Ai Sim
Ai Sim, Ai Não!
Santo da minha Alma
Do meu coração.”

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