Beijou-a como se fosse um adeus. Um beijo gélido, breve, quase um castigo. No ar, porém, ainda circulava uma respiração quente, como se o corpo se recusasse a aceitar o que a boca dizia.
Depois veio o silêncio. O longo, aquele que não se desagrega com palavras nem com o tempo. Separaram-se – cada um levou consigo uma parte do outro, como quem transporta um segredo impossível de abandonar.
Durante anos, pensaram ter esquecido momentos vividos. Ela construiu rotinas novas, ele aprendeu a fingir distrações. Mas o esquecimento, às vezes, é só a forma mais subtil de presença. Um perfume que volta, uma canção que insiste em aparecer na rádio, um nome que o acaso repete. Uma fotografia deixada numa gaveta e aqueles olhos negros iluminados.
Talvez ainda resida neles um calor antigo, pronto a reacender-se.
E nas voltas da vida encontraram-se de novo sem aviso, como se o destino tivesse esperado o momento exato em que ambos já não precisavam, mas ainda queriam.
Foi num café, daqueles que cheiram a história e a pausa. Um olhar bastou. Não para reabrir feridas, mas para reconhecer que ainda havia vida nas cicatrizes.
Nenhum deles procurou palavras. O tempo já as tinha gasto todas. E foi então que ele se aproximou. Não com urgência, mas com a delicadeza de quem regressa devagar a casa.
O beijo, já sem o peso do adeus era inteiro. Um beijo que não pedia desculpa nem prometia futuro – apenas confirmava o presente.
E, enquanto o mundo continuava lá fora, no pequeno espaço entre dois corpos reencontrados, o ar voltou a encher-se daquela mesma respiração quente. Como se o tempo, afinal, tivesse apenas dado uma volta em seu redor para os devolver ao mesmo lugar, no momento certo.
Talvez seja isso o amor: não a permanência, mas a capacidade de voltar a acontecer, mesmo depois de tudo o que parecia terminado. O amor não vive no sempre, vive no instante em que o reencontro é possível.
Professora e Escritora
