Cada postura singular dispõe -se no espaço ameaçando conquistar-se na Unidade, matando o desejo e pejando a impassibilidade, mas quando ela defronta o devir no movimento de conquista do outro, potencia inflamar duas realidades, ora recriando a totalidade na proximidade, ora polarizando as anteriores em dois mundos (i)racionais que se batem pela conquista da Realidade. E esta é o próprio movimento no absurdo que ameaça dualizar perpetuamente o Ser.
Perante isto, talvez a vitória tenha de ser decidida pela própria Realidade, ciente das suas intrínsecas razões e preferências. Aqui se desenharia o papel da ciência que, não obstante, pretende ser, por sua vez, filha da Razão. Visemos o paradoxo que, de mais a mais, possui franca analogia com a natureza do corpo neuromuscular.
Ou não fosse a zona posterior do corpo enformada por uma “Cadeia muscular”, cuja força resulta do adequado comprimento, da necessária flexibilidade, permitindo, também, o “livre-arbítrio” da zona anterior, bem como a relação ordenada com a Realidade, não fosse o excesso da área posterior capaz de tolher a ação, resultando na contração, na função dolorosa, no encurtamento da cadeia postural; e bem que este excesso se pode traduzir pelo alongamento desmesurado, pela agressão paradigmática, e o excesso consequente será igualmente do paciente “empírico”, passível de produzir a dor; e o duelo inflamará os agentes, os candidatos a deuses, o “paciente” transtornar-se-á “Sujeito”, apto a conquistar as razões “duais”, as que duvidam, e, na medida em que se securiza na Realidade, acabará por pacificar-se, mas não antes de ter inflamado o antigo Sujeito.
Este é o ciclo de polarização e despolarização, o “eterno retorno”, que, de algum modo, sublinhando a realidade, poderia consumar-se como “paralelismo psicofísico”, mas é precisamente a zona de guerra, o “pathos”, que representa a maior “queda” face à Unidade, e, não obstante, é igualmente a zona de dúvida, de dor, que exibe o maior desafio face à estagnação, e este é sempre “moral”, concorrendo para uma Ética insofrível; em vida, ela só pode ser representada pela tolerância no trato “terapêutico”, este pacifica a dualidade, redesenha a inDeterminidade, mas, enquanto “terapêutico” e relacional, será sempre dual, mas é precisamente aqui que o objeto moral poderá existir na resistência à Unidade, pois nesta já se perdeu a objetividade na consumação do Objeto transcendente, e visai que o objetivo da vida é antecipá-lo na sobriedade, ainda assim evitando o ponto em que a despolarização e a plena polarização se igualam.
Vejamos que o “pathos” remete para a “criatura” feita à imagem do criador, cada compensação corpórea evolui à medida da postura que a inteiriza, e só a tolerância pode prevenir a deformação; querer a salvação a todo o custo possui o malefício de fortificar a deformação, é certo que cada “verdade” tem direito a existir, mas se ela se bate contra a Realidade dominante pode ser que não subsista vantagem. É comum, em Fisioterapia, dizer-se que não existe postura “normal”, mas se o que pretendemos é a postura indolor é necessário evitar que o excesso se prolongue e contamine.
Várias são as analogias “religiosas” que poderemos retirar da Fisioterapia, particularmente da relação que se estabelece entre “reeducação postural” e “Pilates”, práticas que, estando na moda, nem sempre são adequadamente compreendidas, mesmo naquilo que ensinam sobre “relação terapêutica”, e sobre o requerido “monismo” corpo-Espírito, Realidade-Razão, que, no limite, mata de Amor os inevitáveis e indeclarados amantes, para que possam, finalmente, ter a ligação privilegiada com a Deidade.
Note-se que esta harmonia é, aqui, estabelecida mais como “meta” do que enquanto preceito ou prescrição, mas mesmo a “moral” higiénica possui os seus atributos; já o “pecado” é a necessária qualidade da descoberta criadora, pena que tanto nele faça sofrer inutilmente.
Fisioterapeuta e Escritor