Portugal enfrenta uma crise de liderança, com um parlamento fragmentado e pouca ou nenhuma visão clara sobre o futuro.
A duplicação das moções de censura num curto espaço de tempo ( uma pelo Chega e outra pelo PCP) não é apenas um sintoma de instabilidade política, mas é também uma demonstração do oportunismo barato que caracteriza boa parte do panorama partidário actual. O Chega e o PCP, cada um com o seu discurso, sabiam perfeitamente que não tinham qualquer hipótese de fazer cair o governo. Mas, aquela ânsia de marcar posição e chamar atenção, não resistiram à tentação do espetáculo parlamentar, transformando um mecanismo supostamente sério num mero fogo de artifício político.
Quanto a Luís Montenegro, a decisão de apresentar uma moção de confiança é uma jogada arriscada, mas inevitável. Perder significa o colapso do seu governo e novas eleições, que podem originar uma maior fragmentação do parlamento – e, quem sabe, até à ascensão das forças populistas. Se ganha, reforça a sua posição, mas não elimina o problema central: a falta de estabilidade e apoio consistente para governar.
Vejamos!
O governo da Aliança Democrática (AD), liderado por Luís Montenegro, iniciou já fragilizado, fruto de uma vitória eleitoral pouco expressiva e de uma composição parlamentar instável. Sem maioria absoluta e com um parlamento fragmentado, Montenegro assumiu o cargo sem margem de manobra para erros—e, no entanto, erros é coisa que não têm faltado.
Desde a formação do governo, ficou claro que a equipa ministerial estava longe de ser um grupo coeso e sólido. Alguns ministros são desconhecidos do grande público, enquanto outros já começaram a dar sinais de falta de experiência ou de preparação para os desafios que enfrentam. As primeiras semanas foram marcadas por uma sucessão de trapalhadas, declarações que foram um desastre e uma gestão pouco ou nada eficaz na comunicação política. Se a intenção era transmitir confiança e competência, o efeito tem sido precisamente o contrário.
O próprio Luís Montenegro tem demonstrado dificuldades em afirmar-se como um líder firme. Os seus discursos são frequentemente genéricos, e a sua postura oscila entre a arrogância defensiva e a hesitação. Ao invés de impor um discurso claro sobre o rumo do governo, parece estar constantemente a reagir aos acontecimentos, ao sabor das pressões internas e externas. A moção de confiança que pretende apresentar é um reflexo disso: um acto de desespero para tentar agarrar um poder que lhe escapa por entre os dedos.
Os ministros? Alguns ainda tentam encontrar o seu lugar, mas há já sinais de desgaste precoce. A falta de um rumo político claro e a ausência de coordenação entre as pastas tornam cada decisão um campo minado. Há dossiês urgentes—economia, habitação, saúde, educação—mas até agora pouco se vê de concreto além de generalidades e de vagas promessas.
O governo AD parece, assim, condenado a um dilema cruel: ou sobrevive à custa de cedências constantes, tornando-se refém de partidos e grupos de interesse, ou cai rapidamente, vítima da falta de estratégia e de autoridade política.
No fim das contas, tudo isto parece mais um episódio da crónica da incompetência anunciada da política portuguesa. O país necessita é de um governo estável e de reformas sérias, mas o que tem é um circo onde todos querem ser a atração principal.
Seja qual for o desfecho, não há muitos motivos para optimismo.
Engenheiro/Colaborador