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Domingo, Fevereiro 16, 2025

Porto – Livraria Latina vai encerrar

O Porto está a perder espaços culturais. No primeiro dia deste mês de Outubro encerrou a FNAC de Santa Catarina; a dois passos, no número 2 da mesma rua, na esquina com a Praça da Batalha, a Livraria Latina vive os seus últimos dias e os seus empregados estão em choque com a perda dos seus lugares de trabalho a breves dias.

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Onofre Varela
Onofre Varela
Jornalista/Cartunista

Foto 1 LatinaA Latina é uma das livrarias mais emblemáticas da cidade do Porto, tendo sido fundada em 1942 por Henrique Perdigão que teve a ideia de, naquele espaço, criar mais do que uma livraria: seria um ponto de encontro dos bibliófilos e de simples leitores ou clientes ocasionais.

Nas palavras do jornalista e historiador do Porto, Germano Silva, “Henrique Perdigão considerava a Latina como «a mais moderna organização livreira e editorial do país.» Ali podiam encontrar-se «livros de tudo e para todos, sobre Letras, Filosofia, Artes e Ciências e ainda tratados de Medicina, Cirurgia, Engenharia, Direito, indústrias têxteis, metalúrgicas e eléctricas, contabilidade comercial, etc.» Vendia ainda, por baixo de mão e com risco não despiciendo, livros políticos e outros proibidos pelo regime de Salazar, que incluíam autores como Jorge Amado, Raul Rego, Henrique Galvão, Cunha Leal e pasme-se… duas obras de Aquilino Ribeiro, Quando os Lobos Uivam e Príncipes de Portugal. A ele se deve a iniciativa da primeira página literária nos jornais do Porto, publicada em O Primeiro de Janeiro sob a direcção do jornalista Jaime Brasil. Mais tarde, O Comércio do Porto e o Jornal de Notícias seguir-lhe-iam as pisadas. Morreria prematuramente, em 1944, numa das suas deslocações ao Brasil, país com que mantinha uma estreita relação afectiva, para comprar livros que divulgaria em Portugal”.

Sucedeu-lhe o filho, Mário Perdigão, que manteve a Latina no roteiro bibliográfico portuense durante 53 anos. A sua história também é constituída por momentos menos bons, os quais tiveram de ser resolvidos pelos herdeiros do fundador: pelo seu filho Mário, e depois pelo seu neto Henrique, homónimo do avô.

Foto 2 Versao A
LIvraria Latina no Porto vai encerrar. Direitos Reservados

Depois de ter sido alvo de uma acção de despejo, a Latina acabou por ser adquirida pela Editora Leya e o seu futuro parecia garantido até há bem poucos dias, quando se soube do seu próximo encerramento, ignorando-se quando. Os seus próprios funcionários também não sabem nada mais do que terem os seus postos de trabalho terminados a breve prazo.

Novos donos

A Leya S. A. mudou de proprietário em Fevereiro de 2022. Passou a fazer parte do grupo Infinitas Learning, uma editora pan-europeia dedicada à oferta de soluções educativas digitais e em papel para todos os ciclos escolares, desde o ensino primário ao superior e que alcança mais de cinco milhões de alunos com os seus produtos e serviços, desde o primeiro ciclo até ao ensino superior. Do seu próprio site colhe-se a informação de que a empresa tem “como missão apoiar os alunos a realizar o seu máximo potencial, através do fornecimento de soluções flexíveis e inovadoras, ajustadas às formas de ensinar e aprender do século XXI”.

O grupo Infinitas Learning inclui a Noordhoff (Países Baixos), a Liber (Suécia) e a Plantyn (Bélgica), bem como a Infinitas Product & Technology (Países Baixos). O grupo emprega cerca de 600 pessoas e está sediado em Utrecht (Países Baixos).

A integração da LeYa na Infinitas Learning constituiu um novo passo na estratégia pan-europeia do Grupo que, embora empregando tanta gente… os seus empregados em Portugal vêem-se ameaçados com o despedimento, já que a ideia é manter apenas e loja de Lisboa, encerrando todas as outras, localizadas em: Porto, Aveiro, Viseu, Funchal (Madeira) e Ponta Delgada (Açores).

Foto 2 versao B
Livraria Latina, Porto. Direitos Reservados

A Livraria Latina foi a primeira empresa em Portugal a criar um concurso literário, logo no ano da sua inauguração. O vencedor do mesmo foi o Prof. José Hermano Saraiva que concorreu com a obra “Vento vindo dos montes” usando o pseudónimo Simplicimus.

O busto de Camões que decora a esquina da livraria com a Praça da Batalha é, diz-nos Germano Silva, “da autoria de alguém que, tendo formação de escultor, ficou conhecido como um dos pintores que melhor soube retratar o Porto, o aguarelista António Cruz”. E também nos diz que no local onde se pode ver Camões, havia anteriormente um busto de Mercúrio, e que se deve a Henrique Perdigão a sua substituição pelo de Luís de Camões, símbolo da fachada da Livraria Latina… que o Porto (o país) vai perder.

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