Digo-te, meu amor, que ainda há flores abertas no beiral da nossa casa. Talvez sejam as minhas lágrimas que lhe dão viço. Ainda é aqui, onde o pôr do sol nos enlaçava que o teu olhar, volta e meia volta, espreita as violetas nos meus olhos. Saudades dos teus olhos pousados no meu peito branco a quererem desenhar um arco-celeste.
Digo-te, meu amor, que a saudade tem a textura dos dias sombrios. Que o silêncio tem a cumplicidade do mar e que as palavras que guardo são heras a crescer dentro de mim.
Hoje pela manhã senti o teu braço a rodear-me os ombros; entregavas-me as flores colhidas ao amanhecer, enquanto me deixavas acabar o sono. Às vezes ainda traziam sobras da nossa noite de amor.
Sabes, meu amor, se pudesse inventava um rio que afluísse aos teus lábios. Inundava o teu corpo de ternura e adormecia no teu sorriso – era lindo o teu sorriso.
É nestes dias que preciso dos teus braços cingidos à cintura para descortinar a paisagem que habitámos sem medo, sem dor.
Amanhã estarei serena para navegar no teu olhar e regar as nossas flores com a água fresca das fontes que nos saciava a sede.
Porque hoje só me apetece mastigar o silêncio.
Professora e Escritora