
Se o título do filme é emblemático, indagador, sibilino e enigmático, com o decorrer da película, melhor se encaixa com o argumento que nos vai surpreendendo no desenrolar da ação…Se pensamos que antevemos o seu final, nada disso irá acontecer, pois somos constantemente “interrompidos”, por cenas inusitadas , hilariantes, curtas qb! O facto da maior parte do filme se desenrolar na aldeia do Soajo, revela-nos o como é limitada a vida no interior do país. Vive-se em casa, na taberna e na igreja. Com as contingências adequadas a cada situação.

A passagem de Mourão no ano 2000 pelo Brasil, deu-lhe conhecimentos técnicos e específicos de teatro, cinema e televisão por ocasião da digressão que efetuou com a “Commedia à la Carte”. Mais tarde, nos anos de 2015 e 2016 onde foi protagonista como Narciso no remake “O Pátio das Cantigas” e como Vasco, no filme “A Canção de Lisboa”, e sem dúvida que o cinema português dos anos 30/40, foram a maior inspiração para este filme, digo eu …
Este filme revela-nos, além do amor platónico (pla dominante, pla sensível…) do Xavier (César Mourão) pela Laura (Júlia Palha) que é o principal tema do filme, mas revela-nos ainda, o amor de pai/filho, neta/avô que numa situação de impossibilidade física, pois todos acreditaram na morte do patriarca, reforçado por terem lido as suas últimas palavras, soltaram saudades familiares e provavelmente alguma metanóia e compunção…
A taberna é o único local de encontro e de convívio da aldeia. A gerente do local, a dona Inocência (Carla Vasconcelos), interpreta perfeitamente o papel de alcoviteira, punida pela força divina, quando se apercebe de quem traz as alianças para a cena final é o falecido Armindo…E ela que o tinha visto morto no caixão! E também quem apanhou um grande susto foi o Tita (Pedro Lacerda), o alcoólico da terra, quando viu o morto a passear pelo cemitério. Não vos vou contar o resto do filme, pois a atitude acertada é ir ver o filme num cinema perto de si…
E o carro funerário a distribuir os bolos da mãe do Xavier, a dona Fernanda (Luísa Cruz) ?
Então! Eu não acabei de referir que não ía contar o filme!… (desculpa).
Este filme recorda-nos imagens de outros filmes como: “Bem Vindos ao Norte” e “Namoro à Espanhola”, com os estereótipos das terras pequenas.
Xavier, sacristão nas horas vagas e companheiro de sacristia de Julião (Kevin Dias), ajuda a mãe a distribuir bolos, e está apaixonado por Laura (Júlia Palha). E a única hipótese de estar com a namorada antes de agosto, segundo proposta de Julião, é simularem a morte do Armindo (Manuel Cavaco), pai de Francisco (João Reis) e avô de Laura.
O tema está lançado e as peripécias estão prontas para conseguirem fazer rir um morto…Um morto?

O tema musical principal do filme é “O Mundo sou eu” um dos primeiros trabalhos de Diogo Zambujo, filho de António Zambujo. Com composição, arranjos musicais e interpretação de todos os instrumentos e vozes, com exceção do violoncelo, por João Martins. Parabéns, a música funciona na perfeição sem distrair o espetador da ação. Imagem e fotografia excelentes.
– O Armindo morreu!
– Desde que morreu, nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima!
– Morto ou vivo alguém o levou daqui…
– Deus?
– Não, extraterrestres!!!
Na casa funerária: – Mas este não é o meu pai…
– Calma!
Mas afinal, onde está o Armindo?
Estes foram alguns diálogos que retive na minha memória. O quê? Ainda aí sentado? De que está à espera para ir ver o filme…

Músico/Colaborador