É um filme que inicialmente nos deixa um pouco impendentes, colgados e suspensos no ar…
Com realização de Yorgos Lanthimos, produzido por Emma Stone que também é a atriz principal (Bella Baxter), é baseado no livro de Alasdair Grey. A incrível história de Bella Baxter, uma jovem mulher vitoriana a quem o Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista tão excêntrico quanto brilhante, devolve-lhe a vida.
Bella sente-se ébria e ávida por vivências que nunca teve, e foge com Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado concupiscente, dissoluto e libertino, numa aventura turbulenta, com uma passagem por Lisboa e um encontro com a fadista Carminho numa varanda. Nesta altura, já nos seduzimos pelo quimérico e imaginário, pelas cores conjeturais que o filme nos apresenta (fumos de chaminés cor de rosa). As casas, as ruas, conseguem nos encaminhar para contos de fadas sem fadas… Bella, mantém-se sempre fiel aos seus princípios e com muita inocência, trazida do seu novo cérebro, o cérebro do seu filho que ainda não nasceu…Um trabalho notável de transplante do Dr. Godwin Baxter.
Querendo conhecer mais e melhor o mundo e seus encantos ou desencantos, onde os seus ideais de igualdade, de justiça e de libertação, estão sempre patentes, precípuos e primaciais em todo o filme. Essa ideia da emancipação, especialmente da mulher, calcada no ato de desafiar o controle sobre suas mentes e seus corpos não é exatamente original.
No ano passado, Greta Gerwig, apresentou uma elucubração semelhante com o filme “Barbie”. A passagem dela pela prostituição, é apresentada de uma forma leve e por vezes caricata, como se de uma brincadeira se tratasse…As transformações e alterações genéticas em casa do cientista são magníficas! Cães com cabeças de pato, cabras com cabeças de galinha e surpreendentemente no final do filme, vemos o advogado Duncan Wedderburn com quem ela tinha fugido pelo mundo, com paragens em Lisboa, Paris e Londres…Torna-se num animal que come a erva do jardim…
O elenco conta com os atores: Mark Ruffalo, Jerrod Carmichael, Ramy Youssef, Christopher Abbott, Margaret Qualley, Kathryn Hunter, Suzy Bemba e Wayne Brett.
Este filme que em inglês tem o nome “Poor Things”, é provavelmente o trabalho mais heteróclito, esdrúxulo e mirabolante de Yorgos Lanthimos, o que lhe valeu o “Leão de Ouro”, no Festival de Veneza.
Óscares 2024 – Nomeações: Melhor Filme, Melhor Atriz (Emma Stone), Melhor Realizador, Melhor Ator Secundário (Mark Ruffalo), Melhor Argumento Adaptado, Melhor Design de Produção, Melhor Guarda-Roupa, Melhor Banda Sonora (Jeskin Fendrix), Melhor Caraterização, Melhor Cinematografia e Melhor Montagem.
“Pobres Criaturas” não deixa ninguém inapetente, abúlico ou indiferente num compromisso firme enquanto obra de arte, mesmo que a reação que receba seja o desapreço e desculto, de alguma parcela do público, por ousar, incluir cenas de sexo…”
Música
Deixei para último a música. É soberba na sua simplicidade, algumas vezes apenas um violino… Outras vezes instrumentos de cordas que levamos algum tempo a reconhecer e entender, mas ao olharmos as imagens, sentimos que só poderiam ser aqueles sons, aquela música! Sinceramente foi a melhor música para cinema que eu ouvi nos últimos anos!
Jeskin Fendrix, escreveu a partitura da peça “Ubu Roi” de Alfred Jarry, no “Vitoria and Albert Museum”, colaborou com “Black Midi” na música “Ice Cream”, o seu disco 2020 “Winterreise”, foi aclamado pela crítica.
Sua trilha sonora para “Poor Things”ganhou o prémio Georges Delerue de 2023 de melhor trilha sonora/design de som durante a 50ª edição do Festival de Cinema de Gante.

Músico/Colaborador