Corria o ano de 1996 quando, no Teatro Meridional, em Lisboa, Pedro Alonso integrou o elenco de “Romeu – Versão Montesca da Tragédia de Verona”, peça traduzida e adaptada por Julio Salvatierra. Considerando o texto “bastante intenso”, Alonso deu corpo a Romeu. “Foi em Lisboa que dei os primeiros passos na representação”. A dada altura, confrontou-se com um dilema: viver em Granada, Santiago de Compostela ou Lisboa. “Escolhi Santiago de Compostela. Mas pensei mesmo em ficar por Lisboa. Gosto bastante de Portugal. Adoro Lisboa, o Porto, e voltei algumas vezes, apenas por gosto”.
A relação que mantém com Portugal é de “afeto muito forte”, até pelas memórias invocadas pelos tempos em que aqui fez teatro. Em 2019, aliás, aceitou o desafio da Netflix Portugal aquando da celebração dos 45 anos do 25 de abril, surgindo num vídeo, de cravo na mão, a cantar um excerto de “Grândola Vila Morena”. E, em português quase imaculado, soletrou: “Pela liberdade, sempre”.
DO ABISMO À FAMA
O reconhecimento mundial da série “A Casa de Papel”, na qual interpretou Berlim, catapultou Pedro Alonso para a fama. Demorou algum tempo até perceber a verdadeira dimensão do fenómeno. O caminho até aqui chegar, no entanto, foi feito de altos e baixos: “aos 30 e poucos anos, comecei a meditar e tive necessidade de me redefinir. Não me sentia bem. A minha filha tinha 4 anos. Passei por momentos difíceis, estava arruinado. Num instante, tudo colapsa. Nada é dado como garantido. Esta indústria tanto pode ser desagradável como encantadora”.
Hoje, com 52 anos e a residir em Madrid, Pedro Alonso revela o seu lado multifacetado, explorando atalhos como o da escrita e o da pintura. Em 2000, publicou “El Libro de Filipo”, a partir de uma regressão a vidas anteriores. A ideia partiu de Tatiana Djordjedic, hipnoterapeuta e companheira do ator. Foi desta forma que o Alonso encontrou o homem que foi no passado: Filipo, um guerreiro romano cuja missão é encontrar Yilak, líder de um grupo rebelde que desperta consciências e que procura a verdade. “Nunca tinha feito regressão e, na primeira que fiz, tive uma viagem brutal”, assegura.
EM BUSCA DO EQUILÍBRIO
A este propósito, Pedro Alonso adianta que há pessoas que “acham estranho que alguém faça meditação ou que vá até a um local recôndito para celebrar rituais ancestrais. Eu procuro informar-me. Leio bastante sobre estes temas. O que sei é que há muita gente incapaz de descansar à noite porque, simplesmente, as suas mentes não param. Existe um grave problema de saúde mental, hoje mais do que nunca. Devíamos saber como sermos mais equilibrados”.
Segundo o ator, “viver bem é uma arte. Cada vez mais tenho a certeza de que a vida são várias vidas. Demorei muitos anos para ajustar o meu foco. Mudei em muitas coisas, sobretudo em termos de equilíbrio energético e de atenção”.
Jornalista