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Terça-feira, Outubro 15, 2024

Os filhos abalaram e as mães pousaram o olhar no sentimento que dói – Por Rosa Fonseca

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Rosa Fonseca
Rosa Fonseca
Professora e Escritora

Ao longo da História sempre vimos partir os nossos. Sempre assistimos ao adeus e às lágrimas. As partidas além-fronteiras são dolorosas; porque, sair do próprio país em busca de melhores condições de vida e dignidade, tem sido o caminho para inverter ou tentar inverter a situação. Se em tempos se desbravavam os mares, atualmente o desbravamento é de mentalidades e sobrevivência.

Os filhos partem e as saudades são o estandarte no coração da casa.

As mães de hoje têm a mesma matriz daquelas que, há décadas, se despediam dos seus filhos no cais e viam grandes navios a levá-los mar afora. Hoje despedem-se num terminal de aeroporto e vêem-nos voar num céu sem azul. Por breves momentos, a história de um passado recente volta a circundar-nos.

Por que atravessam fronteiras os nossos filhos? Que sociedade estamos a construir que rouba ao seio da casa, a alegria, os abraços e os sorrisos?!
As mães prepararam-nos para o voo, é certo. Mas para um voo livre. Não para nos ver desamparados na cidade sem raízes e descaracterizada de afeto.
É isso que tantas vezes acontece, sozinhos na noite escura. Tantas vezes sem alento e o calor de um olhar.

Os emigrantes de hoje são diferentes dos de ontem, sem dúvida, mas ambos partem com os mesmos sonhos interditos no país onde nasceram.
Sabemos que é um fenómeno global e circular, inerente às sociedades que respeitam pouco os seus filhos. São, portanto, empurrados os nossos jovens, para a boca do desconhecido.
Emigrar é um fado velho que deveria ser apenas, uma opção sem dor. Nunca uma obrigação para se cumprir enquanto pessoa e cidadão.
E as mães ficam de coração apertado, entre um toque e outro do telemóvel – quando acontece.

Entregam, nas orações à Virgem, o nome e o coração dos filhos.
Entendem a vida de hoje, atribulada e difícil, a globalização, mas bem lá no fundo, naquele compartimento cheio de amor, nunca entenderão o afastamento do seu país, por pura negligência, onde todas as medidas falham: políticas, sociais e económicas.

As noites silenciosas e os domingos vazios, dão lugar a uma tristeza fatigada à espera de dezembro ou de agosto. Até lá, mareiam o seu olhar àqueles dias de risos e abraços com que eram inundadas pelos filhos.
Os filhos abalaram e as mães pousaram o olhar num sentimento que doí.

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