Sempre ouvi dizer que as crianças são o nosso futuro. Através delas, vamos perpetuando a divina comédia da raça humana. Os pequenos marialvas, que começam a berrar assim que encaram a realidade deste mundo, são folhas de papel em branco à espera de formatação por parte dos pais e educadores de infância – porque, salvo alguns “arrastadores de rabo” nas cadeiras dos cafés, a economia obriga a cumprir um horário de trabalho para conseguir pagar as contas.
Neste ponto (mais sereno) da crónica, quero prestar homenagem a todas as educadoras que conheci e confiei para serem parte activa na educação dos meus filhos. Estão (e estarão) na memória colectiva familiar, pelos momentos felizes e laços de carinho que criaram e nutriram. Um universo mágico que, infelizmente, não tem repercussão ao nível da gerência e há sempre alguém, nas sombras, a conspirar contra esta relação de afectos. Porque, por ausência de valores, há pessoas que preferem colocar o dinheiro acima das crianças…
Através da frieza de um e-mail, com poucos caracteres e frases curtas, recebi a indicação que o actual infantário (do meu filho) vai encerrar as portas dentro de dias.
Uma votação, levada a cabo pelos três sócios gerentes, determinou que serão atirados para o lixo mais de cinquenta anos de história. Desconhece-se qualquer esforço ou tentativa de tornar o espaço mais rentável. Ajuda externa parece ser uma frase desconhecida. Os que herdaram a quota, por parte dos sócios fundadores, não dispõem do tempo necessário para cuidar da instituição. Numa reunião (exigida pelos pais) pouco ou nada foi explicado pelo representante da gerência, que mostrou tanto apreço pelas crianças como o Gru Maldisposto.
Perante intervenções emocionadas dos pais – que quase transformaram a reunião numa espécie de exorcismo – o lobo mau manteve a postura irredutível. Sei que os miúdos, nesta tenra idade, não conseguem ter a noção das mudanças que se avizinham. Adjectivos negativos como ganância, hipocrisia e estupidez marcam, à bruta, o fim da infância.
O último dia aproxima-se e, mesmo sabendo que os educadores se esforçam para esconder uma ou outra lágrima, as (poucas) comunicações enviadas pela instituição ainda fazem questão de mencionar que vamos criar memórias felizes. É caso para dizer, aos senhores do poder, tenham vergonha!

Maquinista na Metro do Porto