– Senhor Doutor, pela sua saúde, mande-me fazer todo o tipo de exames, receite os
comprimidos, os supositórios que quiser, ou até posso realizar um eletrocardiograma, caso seja necessário… agora proibir o vinho tinto? Isso é que não!
Porque ele é que me alegra o dia,
quando o bebo pela manhã,
Ao almoço e ao jantar,
E não é uma escolha vã.
– Você é poeta?
– Não, mas gosto de ler poesia…
Como dizia o velho abade
que da pinga ele entendia
que o melhor para a saúde
É bebê-lo todo o dia!
“O primeiro vai inteiro
O segundo até ao fundo
O terceiro como o primeiro
E o quarto como o segundo”
Voltemos à prosa…
Agora imaginem um bacalhau cozido, um bom cozido à portuguesa, ou umas boas tripas à moda do Porto, acompanhados por água ou refrigerantes…(?)
Afinal como surgiu o precioso néctar?
Uma das teorias é a de que nasceu na Pérsia e, segundo a fábula, uma princesa depois de perder a admiração do rei, resolveu cometer suicídio ao tentar beber uma garrafa de vinho. Mas, ao invés do que ela esperava, o seu humor melhorou, o que trouxe a hipótese de que uvas estragadas não eram como um veneno, mas causavam um efeito diferente. Um efeito de exultação e comprazimento!
Muitos cristãos acreditam que Noé foi quem produziu o primeiro vinho do mundo, já que em Génesis consta a seguinte passagem “e começou Noé a cultivar a terra e plantou uma vinha”.
Referências mais fortes dão conta de que as primeiras vinhas foram cultivadas na Idade das Pedras, lá por volta de 8 mil A.C, especificamente na Geórgia, região do Cáucaso. Nessa época, os humanos passaram de nómadas para se tornarem sedentários, o que teria influenciado na prática de outras atividades, como domesticação de animais e o cultivo de alimentos. Em contrapartida, os gregos chegaram a colocar a bebida como presente dos deuses.
No Egito, foram encontrados os principais registos do vinho, especificamente pinturas e
documentos datados de 3000 a 1000 A.C. Neles, era possível observar como ocorria a
plantação das vinhas, a prensa com os pés depois da colheita, a fermentação e até o armazenamento. Inclusive, enquanto os vinhos leves, recebiam fermentação de apenas alguns dias, os mais alcoólicos passavam por semanas pelo processo.
Chegando na Grécia, por volta de 3 mil A.C através dos mercadores fenícios, o vinho foi vital para o desenvolvimento do país, tanto na área económica como culturalmente. Uma prova disso é que lá, ao contrário do que acontecia no Egito Antigo, a bebida era apreciada por todas as classes de trabalhadores, sem distinção.
A importância do vinho na Grécia foi materializada na figura de Dionísio ou Baco segundo a simbologia romana., que no mundo mitológico era conhecido por ser o deus das belas-artes, do teatro e do vinho. A partir de mil A.C., os gregos começaram a plantar videiras em outras regiões da Europa, como Itália e região da Península Ibérica.
Em terras italianas, os romanos encararam o vinho como uma espécie de demarcação do território, já que tinham nessa bebida uma forma de impor costumes e a própria cultura nas áreas conquistadas. Foi, dessa forma, que os vinhedos chegaram à Grã-Bretanha, Germânia e à Gália, que mais tarde se chamaria França. Por meio da agricultura, os romanos se tornaram experts no cultivo das uvas e claro, da produção do vinho. Catalogando diversos tipos de uvas, esse povo foi responsável por criar os conhecidos barris de madeira – uma evolução nas ânforas usadas pelos gregos – o que veio a aprimorar o sabor do vinho.
E não foi só isso. Com o processo se modernizando, eles conseguiram detetar doenças e
pragas que afetavam as suas vinhas e foram os primeiros a usarem as garrafas de vidro
para armazenar a bebida, que naquela época era bem mais adocicada.
Andando lado a lado com o Império Romano, o vinho atingiu na região um patamar
elevado nos séculos I e II. Após esse período, guerras constantes fizeram o império cair em declínio, sendo várias áreas destruídas. Uma delas foi, justamente, da vinicultura, que se tornou cara e fraca em Roma. Mesmo assim, o poder do vinho já era tão grande que tinha vida além da região italiana.
Com a queda de Roma, entrou em cena a Idade Média. Em toda a Europa, o vinho já era bem difundido e visto como a bebida preferida para acompanhar os banquetes porque havia intensos problemas com a potabilidade da água. A França, inclusive, nesse período, começou a se destacar como produtora de vinhos de alta qualidade, por meio da influência de Carlos Magno, um imperador que estabeleceu várias regras de regulamentação para a produção de vinhos. Outro grande fator que colaborou com a expansão do vinho pelos países europeus foi a ascensão da Igreja Católica no século IV, pelo fato da Eucaristia – momento considerado sagrado em uma missa – utilizar constantemente essa bebida como simbolismo do sangue de Jesus Cristo. Além do âmbito religioso, o vinho se sobressaiu na área médica, já que se acreditava que tal bebida possuía propriedades curativas contra uma série de doenças.
Músico/Colaborador