Mulher diz NÃO
Sobre o teu corpo o azul do céu que pediste,
Escureceu
Vestido noite.
Ao longe um barco sem porto – o teu seio já não é cais
nem farta casa dos filhos
As tuas mãos abraçadas à clandestinidade da noite
esmorecem rente à madrugada em silêncio
Que dor este silêncio!
Mulher DIZ NÃO!
No teu olhar vazio, sucumbem aves e rios
Mataram dos teus lábios todas as palavras de amor
Encarceraram nas tuas mãos os gestos de ternura
como quem amordaça a primavera.
Que inimigas são as tuas noites sob o teto de quem diz amar-te!
Mulher diz NÃO!
Nunca o teu corpo será um jardim desabitado
Enquanto nele regares as tuas rosas
E fizeres dos silêncios força
Travessia.
Ergue-te, dessa dormência a que te condenaram
Dos corpos que te maltrataram
Das pancadas que acordavam as tuas noites
Das palavras, como chicotes, te vergastavam a alma.
Porque, só a ti pertence o teu corpo e o teu direito a viver.
Mulher rosa, sangue e navio – Mulher vida.
Professora e Escritora