A abordagem crítica à falta de políticas estruturais, no Porto, desde 2001, não se revestem de questões pessoais, muito menos de carácter ou honra mas, unicamente, do que entendo, como cidadão do Porto, que gostaria de ver na cidade do futuro. O Porto nos últimos 60 anos viveu do bairrismo, do calão; o Porto do FC Porto, nunca na subserviência do poder politico/económica de Lisboa, no que diz respeito a investimentos. Sim, trocamos os V´s pelos B´s. Sim, é um betacismo (não confundir com betos) – a mudança de som em que o [v] é substituído pelo som [b]. “Se na nossa cidade há muito quem troque o v por b, há pouco quem troque a liberdade pela servidão.” – Almeida Garrett. Não é uma ignominia, muito menos uma miragem, mas sim factos que sentimos há muitos anos.
A Área Metropolitana do Porto, criada em 1998, serve para quê? A regionalização, encapotada, que nenhum Governo assume, serve para quê? A CCD RN serve para quê? Admira-me o facto dos cidadãos não serem ambiciosos com a cidade, escusando-se em preocupações pessoais, nas contas ao final do mês e distraem-se com as alterações que vão sendo implementadas na cidade. Basta olhar: Mobilidade um caos. Quantas propostas políticas estão em cima da mesa, ou estiveram nos últimos anos? Habitação, um caos; quem tem muito dinheiro consegue viver na cidade. Soluções? Não vislumbram; Ação Social, nem me pronuncio porque basta andar a pé, à noite, na cidade. Sempre me preocupei com aspetos comunitários e a prova disso, foram as alterações conseguidas na Prelada ao longos dos anos, até 2010. Não, não foi pouco, mas o tempo suficiente para implementar: Jardim Sarah Afonso (1hec = 300 mil euros; Avenida Xangai = 1,2 milhões de euros; arvores VCI; MoloK´s do lixo; pavimentação; passadeiras; caixas do lixo etc,
etc.).
No Porto cidade é igual, não alieno a minha condição de cidadão, que vota, lê os programas e escolhe quem garante o futuro, para exigir políticas de cidade. O BE no Porto, serve para nunca mais eleger ninguém. Alguém conhece o eleito? Um voto perdido. O que são e o que interessa aos cidadãos? As bases das propostas de futuro de uma cidade? Reafirmo que as cidades com mais população, precisam de rearranjos administrativos centrais. O Estado não pode continuar a criar agências e institutos porque qualquer dia, ninguém, se entende…
Depois desta introdução, a proposta de mobilidade (ou imobilidade) do Metro Bus é o fundamento deste artigo. Muitos cidadãos votaram (não votei, nem votaria no atual presidente, jamais) nesta lista sentem-se defraudados quanto ao dinheiro gasto num percurso inócuo e sem sentido, já que nem estimativas de custos vs ocupação têm para mostrar. É gestão! Quando propõem obras destas? A solução seria: elétrico do Porto – a rede de elétricos existe desde 1895 (explorada pelos STCP), contando em 2011, com 3 carreiras regulares de serviço de passageiros. A rede atual tem uma extensão de 8,9 km e a bitola é de 1435 mm (bitola internacional) idêntica à do Metro do Porto, mais larga que outros 2 sistemas semelhantes a operar em Portugal: Sintra (1000 mm) e Lisboa (900 mm). 2010 os elétricos transportaram 390 mil pessoas – maioria constituída por turistas; “Ainda conheci alguns tipos de capitães aposentados, no americano que se inaugurara e que levava a gente ao Porto numa hora, alumiado por uma luzinha de petróleo, e com reforço de mulas em Massarelos. Nesses carros andava sempre a mesma meia dúzia de pessoas para baixo e para cima, e o serviço era dirigido com ferocidade por um major de pera pintada com esmero, que mantinha a disciplina numa gaiola do Ouro.” – Raul Brandão, Os Pescadores.
A tradição e a história do Porto com 300 anos deveria ter tido como prioridade o elétrico (não polui) ,em detrimento do Metro Bus que, na minha opinião, a sua implementação constitui um abuso, sem consulta aos portuenses. Vale o que vale, mas na verdade, a enfermidade é sempre a mesma: 2 mandatos de beijos/abraços e o último “toca e foge” a implementar projetos que ninguém quer. Tudo isto tem de mudar e ser validado por algum órgão que financia estes projetos.
Não se admite, nos dias de hoje, que o dinheiro seja mal gasto, muito menos esbanjado. O Porto. é um exemplo de cosmética e de esbanjamento sistemático que não acautela o futuro sustentável da cidade.
Insistir num movimento sem propostas é devastador para a cidade e a prova é o que sentimos. Estamos num paradigma novo a todos os níveis e se estes “políticos de algibeira” não tomarem juízo. afundam as cidades sem retorno. Apelo aos portuenses que leiam os programas para “não serem comidos por lorpas”.
Docente na Atlântico Business School/Doutorado em Ciências da Informação/ Autor do livro ” Governação e Smart Cities”