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Segunda-feira, Maio 12, 2025

Mandá-los à m… mas com o voto – Por Amadeu Ricardo

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Portugal vai às urnas no dia 18 de maio de 2025. E com isso regressa novamente o circo. Não o do povo — esse está exausto e cínico —, mas o dos profissionais do embuste. Aqueles que fazem da política uma arte de sobrevivência, da mentira um modo de vida, e da impunidade uma tradição nacional.

A queda do governo de Luís Montenegro foi só uma nódoa mais numa toalha que já não tem cor. Apanhado a usar a sua empresa familiar, a Spinumviva, como aspirador de fundos públicos e de trampolim de influência, Montenegro ainda teve o desplante de dizer que “não violou a lei”. Claro que não! A corrupção em Portugal é demasiado sofisticada para ser burra. O truque não é quebrar a lei — é dobrá-la até ela se tornar irreconhecível. A Spinumviva assinava consultorias para câmaras do círculo do PSD, promove projetos financiados por fundos europeus que depois eram “acompanhados” por aquela gente próxima do partido, tudo com as faturas em dia e os carimbos legais. O problema nunca foi a ilegalidade — foi sempre e será a indecência.

E a justiça?
Um espetáculo paralelo. O Ministério Público anuncia investigações como quem lança “trailers” de filmes que depois ninguém chega a ver. No caso Spinumviva, houve buscas, manchetes, indignação — e depois? Silêncio. O processo está em banho-maria, provavelmente à espera que a indignação expire no prazo de validade das eleições. Como tantos outros: Sócrates, Tecnoforma, Altice, Galamba, Galpgate, Fundações suspeitas, as golas inflamáveis, Tancos, Cabrita e os atropelamentos, influencers, tachos, parentes, testas de ferro. Uma galeria de horrores sem culpados.

A justiça portuguesa não é cega — é míope seletiva. Vê muito bem os alvos fracos e convenientemente embaça a vista quando o acusado veste fato e gravata e almoça no Gambrinus. Os processos arrastam-se até à prescrição ou até à amnésia coletiva. E quando há condenações, são suspensas, adiadas, suavizadas. O Ministério Público tornou-se um guião de novela onde todos os vilões saem impunes, desde que saibam falar ao microfone com ar ofendido.

Entretanto, o país apodrece. O apagão que deixou 93% do território às escuras foi apenas o reflexo literal de um Estado desligado, falido em ideias, em competência e em vergonha. Quando tudo falha — saúde, justiça, transportes, habitação, salários —, sobra o quê? Sobra o “lamentamos o sucedido”. Um país gerido a notas de pesar, a comissões de inquérito e a votos de pesar pela própria irrelevância.

Agora temos vinte partidos em campanha. Vinte. Mas o cardápio é o mesmo: frases feitas, chavões reciclados, powerpoints cheios de setinhas coloridas e coragem nenhuma. Todos juram que querem “reformar o sistema”. Nenhum quer abdicar do sistema que os alimenta. Os debates? Combates de gritaria onde ninguém ouve ninguém, onde se discute a polémica do dia em vez da política do futuro. É um concurso de egos, de frases virais, de indignações fingidas. Um reality show deprimente onde o prémio é um gabinete com ar condicionado e carro com motorista.

E o povo? O povo já nem sabe se deve rir ou chorar. “São todos iguais”, “isto não muda”, “para quê votar?” — e assim, com essa resignação triste, entregamos o país de bandeja a quem mais nos despreza. A abstenção não é protesto: é capitulação. É deixar que os piores decidam por ti. É assinar por baixo do contrato que te rouba todos os dias.

Por isso, sim, é tempo de mandá-los à m… — mas com o voto. Porque o voto, mesmo neste pântano, ainda é a única arma que o eleitor tem. Não é um cheque em branco. É uma bofetada. É uma declaração de guerra civilizada. Vota para punir, para incomodar, para dizer que estás farto. Vota porque é a única forma de os tirar de lá. Se não for por esperança, que seja por raiva. Se não for por fé, que seja por vergonha.

Eles são muito maus. Enquanto tu não fizeres nada, vão continuar a sê-lo com toda a legitimidade democrática.

VOTA!

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