O jornalista italiano Gabrielle Nunziati, a trabalhar para a Agência Noticiosa Italiana NOVA, foi despedido depois de, numa conferência de imprensa, ter perguntado à porta-voz da Comissão Europeia: “Se a Rússia tem de pagar a reconstrução da Ucrânia, Israel deve pagar a reconstrução de Gaza, já que destruiu toda a franja?”.
Duas semanas depois o jornalista Nunziati via o seu contrato com a agência noticiosa a ser cancelado, alegadamente porque “a pergunta era tecnicamente equivocada, colocada fora do lugar e errada, causando incómodo para a agência”!
O Conselho Nacional dos Jornalistas Italianos condenou a atitude da Agência NOVA e exigiu a readmissão do jornalista.
A pergunta do jornalista não estava “equivocada” ou errada, nem ocorreu fora do lugar onde devia ser feita. O lugar era aquele: uma Conferência de Imprensa habitual, organizada pela Comissão Europeia para dar a saber à Comunicação Social o que houver para ser divulgado, e em cuja reunião os jornalistas podem, e sobretudo devem, fazer todas as perguntas que lhe ocorrerem sobre a actualidade, como, por exemplo, a guerra na Ucrânia ou o conflito israelo-palestino.
Respondendo ao jornalista Gabrielle Nunziati, a porta-voz da Comissão Europeia, a portuguesa Paula Pinho (que integra a Comissão em Bruxelas desde o ano 2000, formada em Direito pela Universidade Católica do Porto e escolhida por Von der Leyen para porta-voz da Comissão) disse ser “uma pergunta interessante, mas não vamos respondê-la neste momento”. Para Nunziati a pergunta tinha lógica… possivelmente, para o governo italiano… é que não!…
Recorde-se que o governo italiano é dirigido por uma mulher (Giorgia Meloni) o que, à partida (para mim) é positivo. Mas para além da minha sensibilidade para o feminismo, há a realidade política que Meloni representa. Ela é a líder do partido político “Irmãos de Itália” (em italiano Fratelli d’Itália, FdI) cuja designação completa é “Irmãos de Itália – Aliança Nacional). É um partido de ideologia nacional-conservadora, populista, eurocéptica e “atlanticista” o que, traduzido para português que se perceba, quer dizer “pós-fascista”. O FdI foi fundado em 2012 por membros do partido de Sílvio Berlusconi, cujo ADN político lhe vinha desde antes da Segunda Guerra Mundial (e durante), dos partidos Nacional Fascista (1921-1943) e Republicano Fascista (1943-1945).
Para o cientista político Sérgio Schargel “alguns motivos que explicam a ascensão de Meloni são a tradição autoritária italiana, a ausência de um processo ‘desfascizante’, o contexto geopolítico global de recessão democrática e o sentimento de antipolítica”. Talvez esteja aqui a razão para o despedimento do jornalista Gabrielle Nunziati, por encomenda do governo de Meloni.
Na América de Trump, na Rússia de Putin e na China de Xi Jinping (de entre outros lugares e outras figuras), também é assim que se procede com os jornalistas e com a liberdade de expressão… e por cá também há, no Parlamento, políticos que abandonam as entrevistas quando as perguntas dos jornalistas não conferem com os recados que eles querem passar para os telespectadores. É a atitude do extremista xenófobo, candidato a ditador, que quer pôr mordaça em todos nós… não só nos jornalistas… mas também em si, prezado(a) leitor(a).
Jornalista/Cartunista






