A medicina sempre foi metade ciência, metade arte — e agora está a ser invadida por zeros e uns. A Inteligência Artificial entrou nos hospitais como aquele estagiário que ninguém sabe bem se vai salvar vidas ou entornar café nos relatórios.
E sim, é fascinante. Algoritmos que detetam cancro da mama com 99% de precisão. Apps que prevêem crises de diabetes antes de acontecerem. IAs que, só pela tua voz numa chamada, percebem se estás a ter uma paragem cardíaca. É como ter médicos ninja escondidos no teu bolso, sempre de serviço e sem precisar de café.
Mas há um problema: a saúde não é só precisão, é também humanidade. Nenhum paciente quer ouvir de um ecrã frio: “Lamento informar, tem 3 meses de vida. Clique em ok para confirmar.” A IA é uma máquina brilhante, mas não tem empatia, não sabe segurar a mão, não entende o silêncio pesado depois de um diagnóstico.
E se não tivermos cuidado, corremos dois riscos:
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A dependência tecnológica – médicos que desaprendem o instinto clínico porque delegaram tudo ao algoritmo. É como um piloto que só confia no piloto automático… até ao dia em que o sistema falha.
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Os preconceitos nos dados – quando o algoritmo é treinado quase só com homens caucasianos e depois erra com mulheres ou outras etnias. Já aconteceu. Não é ficção científica, é realidade.
No meio disto tudo, o que a IA está realmente a fazer é revelar as nossas próprias fragilidades: falta de dados diversos, pressa em cortar custos, e uma ética muitas vezes deixada no corredor de espera.
Mas há também uma promessa enorme: hospitais inteligentes, consultas remotas para quem vive longe, terapias digitais feitas à medida de cada paciente. A IA não vem para substituir o médico — vem para lhe dar superpoderes. É como um estetoscópio digital que amplifica capacidades humanas, não um cirurgião frio que dispensa a mão do especialista.
O problema não é se a IA vai assumir o comando. O problema é quem segura o bisturi quando a máquina se engana. E, acima de tudo, se ainda teremos coragem de confiar no humano — falível, sim, mas capaz de compaixão.
Porque no fim do dia, nenhum algoritmo sabe o que é ouvir um coração a bater — só o pode medir.
🎧 Ouve o episódio 22 de IA & EU aqui mesmo…
Terapeuta e Formador Psicossocial | Autor
Criador de Conteúdos | Especialista em Inteligência Artificial






