O caso seria cómico se não fosse trágico.
Um deputado da Assembleia da República, líder de um partido com representação nacional, vota contra a deslocação oficial do Presidente da República a convite do seu homólogo alemão, confundindo “Bürgerfest” com “festival de hambúrgueres”.
Isto não é um simples deslize linguístico em conversa de café. Estamos a falar de uma votação parlamentar, representativa da vontade de milhares de portugueses.
O que me choca não é o erro de tradução em si. Isso, qualquer um pode cometer. O que me choca é a leviandade com que se vota sem o mínimo de esforço para compreender o que está em causa. Nem o senhor deputado, nem a sua equipa, tiveram o cuidado de ler uma nota oficial da Presidência da República publicada no próprio dia, onde se explicava, de forma clara, que o encontro era relativo a uma “Festa dos Cidadãos”, realizada anualmente nos jardins do palácio presidencial alemão, para valorizar o voluntariado e a cidadania ativa.
O mínimo exigido a quem ocupa uma cadeira no parlamento é discernimento. É informação. É a defesa dos direitos, dos valores e da ética que dizem representar. Aqui não houve ética rigorosamente nenhuma. Houve descuido, desprezo pela responsabilidade e houve deliberada manipulação, porque mesmo depois de errar, o senhor deputado insistiu em associar a visita a um suposto “custo absurdo” para os contribuintes. Um deputado não pode, nem deve, transformar a ignorância em arma política. Não pode usar o erro próprio como espetáculo de indignação. Não pode votar contra sem sequer perceber o que está a rejeitar. Porque nesse momento não está apenas a expor-se ao ridículo, está a desrespeitar a instituição que representa e os eleitores que lhe confiaram o voto.
Na minha vida profissional, qual o peso de uma decisão mal tomada.
Uma escolha errada pode significar perder um cliente, comprometer uma oportunidade de negócio e ser obrigado a indemnizar de acordo com contratos e convenções celebradas.
As minhas falhas têm consequências imediatas, reais. No caso do senhor deputado, aparentemente, não. Erra, vota sem saber, distorce, apaga publicações e segue adiante, como se nada tivesse acontecido.
A diferença é gritante.
Eu não posso esconder-me de más decisões. Os líderes políticos também não deviam poder.
Representar significa assumir responsabilidade até às últimas consequências. E, neste episódio, responsabilidade, foi palavra ausente.
