Este ano foram colocados 49 963 novos estudantes na 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso para o ano letivo 2024-2025 no ensino superior público. O número de estudantes colocados representa uma taxa de colocação de candidatos de 85,7%, dos quais 56% na 1ª opção .
Após a saída das colocações começa a corrida em busca de alojamento para a maioria e, também o aperto financeiro para as famílias. O Estado, para além das bolsas, atribui aos jovens beneficiários de abono de família até ao 3º escalão apoio extraordinário ao alojamento, cujos valores mensais podem variar entre os 243,76€ ( concelhos de Évora, Viseu, Guarda entre outros) e os 310,24 euros ( Lisboa e concelhos limítrofes). Porém, a atribuição deste complemento de alojamento em muitos casos não excede os 50% dos limites fixados para cada área geográfica para estudantes deslocados não bolseiros. Para o novo ano letivo estimam-se cerca de 35000 camas em residências universitárias públicas ou outros alojamentos similares para um total de 110 mil alunos deslocados o que evidencia que faltarão camas para estudantes: só 32% das necessidades estão garantidas através da oferta do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES).
Cada cidade com o seu preço
Perante os dados, resta o mercado de arrendamento privado e, como a lei da procura e da oferta tem feito disparar os preços, este final de Verão, de acordo com a divulgação do Observatório do Alojamento Estudantil, o preço médio por quarto em Portugal está agora nos 397 euros por mês, o mais alto desde que há dados oficiais. A realidade do país é muito díspar e inconstante, sendo Lisboa e Porto as zonas mais caras com quartos a rondar os 500 euros mensais, por vezes sem despesas incluídas.
Uma pesquisa rápida aos sites especializados permite compreender as diferenças, quer na qualidade quer nos serviços oferecidos. Quanto maior a proximidade ás universidades, mais elevado é o preço. Nas cidades de Lisboa e Porto, as zonas da Alameda e da Asprela respectivamente, são as que pela pressão da procura, apresentam preços mais elevados.
Aqui os quartos individuais com wc partilhado e sem despesas incluídas oscila entre os 400-450 euros, já as Suites ultrapassam os 500 euros e as residências privadas, ainda que tenham todas as despesas incluídas e as melhores condições, apresentam preços a partir dos 700 euros em Lisboa e 600 euros no Porto. Se efetuarmos a mesma pesquisa nas cidades de Braga, Coimbra e Aveiro, verifica-se que os quartos individuais com wc partilhado rondam os 300/350 euros por mês, valores aos quais acrescem as despesas com água, luz, gás e internet.
No interior do país, baixam os preços e a oferta. Há menos quartos e os alojamentos em residências universitárias privadas são inexistentes. Os valores oscilam entre os 250/300 euros, mas já com as despesas incluídas. Esta é a média dos preços de quartos para estudantes universitários em Évora, Viseu, Bragança ou Covilhã.
Arrendamento paralelo
Mas o maior problema é o arrendamento paralelo, uma vez que há inúmeros senhorios que não fazem contratos nem passam recibos, o que impede de imediato os estudantes de se candidatarem a qualquer tipo de apoio por parte do Estado, pois sem documentos não podem solicitar bolsas ou outro tipo de apoios. Conclui-se, assim, que é cada vez mais urgente acelerar a execução do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), que arrancou em 2018. Na altura, o governo de António Costa propunha até 2028 aumentar 18 mil camas, mas ainda que se cumpra a difícil promessa, somando este número às existentes, serão 33 mil, o que não responderá ás necessidades se a tendência de crescimento do número de estudantes universitários se vier a confirmar.
Acelerar o Plano Nacional de Alojamento
Não há dúvidas que, se o Estado não cumprir o Plano Nacional de Alojamento, e se continuarem a faltar camas, o mercado paralelo continuará a disparar, com quartos cada vez mais caros e menos dignos, colocando em causa o sucesso académico e agudizando a situação dos alunos mais carenciados.
Se estudar e aceder ao ensino superior constitui um desejo e um direito dos jovens, o país precisa, para se desenvolver, de mais jovens com o ensino superior concluído. Por outro lado, o próprio ensino universitário tem um papel de elevador social indispensável. E se nas últimas décadas o processo de democratização do ensino superior tem sido consolidado devido ao alargamento e expansão da própria rede de ensino a todo o território, há que continuar o mesmo processo em termos de alojamento, valorizando e acelerando-se cada vez mais o PNAES.
Colaboradora/Filósofa