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Domingo, Junho 15, 2025

Estado do SNS: à espera da morte – Por Amadeu Ricardo

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Durante décadas, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi o orgulho de um país que, apesar das dificuldades, se podia gabar de garantir cuidados médicos a todos os cidadãos, independentemente da sua carteira. Hoje, esse mesmo SNS é uma sombra do que foi – desfigurado, vilipendiado, transformado num instrumento de manipulação emocional e num trampolim para negócios obscenos à custa do sofrimento do povo.

O SNS não está a morrer por acaso. Está a ser assassinado. Lentamente, e com requintes de malvadez, por uma classe política e económica que vê na saúde não um direito, mas um mercado sedento de lucro. Chamam-lhe degradação, eu chamo-lhe sabotagem premeditada.

Hospitais públicos em ruínas, listas de espera demente, médicos esgotados ou a fugir do país, e urgências encerradas como se estivéssemos em tempo de guerra. Isto não é desorganização: é uma operação cirúrgica para empurrar a população – fragilizada, doente e apavorada – para o colo quente da saúde privada, onde tudo se paga, e caro.

Exemplos não faltam. As maternidades públicas que fecharam em 2023, obrigando as grávidas a desembolsar milhares de euros nas clínicas privadas, não o fizeram por falta de profissionais. Fizeram-no porque alguém decidiu que o medo é mais lucrativo do que a confiança. E funciona. O pânico leva as pessoas a pagar o que não têm, a fazer créditos para um parto, e aceitar que a saúde virou um produto de luxo.

Em 2024, no Hospital de Santa Maria, havia mais de 600 dias de espera para as consultas de especialidade. É factual. O que também é factual é que, nesse mesmo período, os seguros de saúde privados aumentaram exponencialmente a sua base de clientes. Coincidência? Ou um plano bem executado?

Durante a pandemia, milhões foram gastos em hospitais de campanha vazios, como o Hospital da Luz, pago com dinheiro público, enquanto os hospitais do Estado mal tinham máscaras. Quem lucrou? Não foram os utentes. Não foram os profissionais. Foram os mesmos de sempre: os donos disto tudo, os que se alimentam do medo como vermes de luxo.

Portugal tornou-se um país onde quem não paga, morre à espera. A saúde pública deixou de ser um direito e passou a ser um castigo, um suplício. E tudo isto enquanto continuamos, como cordeiros anestesiados, a pagar impostos para sustentar esta farsa.

A cereja no topo do bolo? A passividade do povo. O Zé Povinho – essa criatura tantas vezes símbolo de resistência – tornou-se um espectador apático, resignado, que se limita a protestar entre os goles de café e as partilhas no Facebook. Já nem marioneta é – é uma figura empalhada, um boneco decorativo no palco de um teatro macabro montado para nos entreter enquanto nos enterram vivos.

Conclusão?
Isto não é só má gestão. É um crime político e social disfarçado de burocracia. É corrupção com verniz de tecnocracia. E só há uma coisa pior do que quem lucra com esta desgraça: quem a aceita calado.

Acordem. Se ainda tiverem olhos. E se ainda tiverem cérebro para pensar.
AINDA VAMOS A TEMPO!

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