8 C
Porto
14 C
Lisboa
14.9 C
Faro
Sábado, Abril 19, 2025

O Pensamento Filosófico na Educação e na Sociedade – Entrevista com David Erlich

O jornal O Cidadão entrevistou David Erlich, professor de Filosofia e autor, para compreender o seu percurso académico e profissional, a sua visão sobre o ensino da Filosofia em Portugal e o impacto da reflexão filosófica na sociedade contemporânea.

Mais artigos

David Erlich tem dedicado a sua vida ao ensino, à escrita e à investigação filosófica, conciliando a docência com a participação em conferências e publicações académicas. Em entrevista a “O Cidadão”, à margem do seu curso “A Pólis entre 10 Filósofos” no El Corte Inglês de Vila Nova de Gaia, partilha a sua visão sobre a importância da Filosofia, os desafios do ensino e os seus projetos futuros.

A Pólis entre 10 Filósofos com David Erlich Parte I – Da pólis de Platão à realpolitik de Maquiavel

O Cidadão (OC) – Como surgiu o seu interesse pela filosofia e o que o motivou a seguir uma carreira académica nesta área?

David Erlich (DE) – O interesse pela filosofia surgiu no contexto da minha formação em ciência política. Apercebi-me de que as conceções políticas estavam intimamente ligadas a noções do bem, do verdadeiro, do belo, e que pensar o político com profundidade exigiria uma cultura filosófica mais vasta.

(OC) – Poderia partilhar connosco os principais marcos da sua vida profissional como professor de filosofia no ensino secundário?
 
(DE) – Primeiro dia da carreira docente, como formador no IEFP, depois de fazer uma viagem de carro entre Lisboa e Sines: 15/02/2017. Primeiro dia ao serviço da escola pública, ainda precário: 01/09/2019. Primeiro dia já integrado nos quadros do Estado, mas ainda a nível regional: 01/09/2023. Primeiro dia integrado nos quadros da minha escola: 01/09/2024. De resto, tenho muitos momentos que me deixam grato por esta profissão que me apaixona. Mas considero-os mais uma dádiva que a vida me ofereceu, do que marcos.
David Erlich
Foto de ALBERTO M. PEREIRA//El Corte Inglés.
(OC) – Além do ensino, tem participado em diversas conferências e publicações académicas. Como essas experiências influenciam a sua prática como docente?
 
(DE) – A dedicação à atividade filosófica fora da sala de aula permite-me, precisamente, ser melhor professor, na medida em que continuamente procuro aprender, aprofundar, explorar e dialogar. De algum modo, penso que isso faz com que, quando partilho filosofia na sala de aula, e quando fomento o filosofar dos meus alunos, o faça com o entusiasmo de quem está propor algo que está vivo.
(OC) – O curso “A Pólis entre 10 Filósofos” aborda as tensões políticas na tradição ocidental através de dez pensadores. O que o inspirou a criar este curso e qual a sua importância no contexto atual?
(DE) – O que me inspirou foi a ideia de não procurar aferir quem tem toda a razão, mas sim as razões que cada um tem. Um gosto pelo pensamento plural e pela subtileza conceptual. Uma fuga da simplificação. Para além destas premissas, foi também inspirador um diálogo que tive com a Susana Santos, diretora de comunicação do El Corte Inglés. Foi um telefonema que começou quando eu estava a caminhar no Martim Moniz e terminou quando já estava no topo da Alameda! Esse diálogo, essa animada troca de ideias na construção conjunta, foi crucial na conceção deste curso.
(OC) – Como selecionou os dez filósofos destacados no curso e de que forma as suas ideias contribuem para a compreensão da política contemporânea?
(DE) – Explicar de que modo as ideias dos dez filósofos contribuem para a compreensão da política contemporânea exigiria, provavelmente, percorrer todo o curso. Portanto, fico-me pela primeira parte da pergunta. Platão e Aristóteles: arquétipos fundacionais. Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino: interessante ver como, desde a mesma tradição religiosa, valorizam de modo tão diferente o fenómeno político; e também o modo como retomam, respetivamente, Platão e Aristóteles. Maquiavel e More: dois referenciais incontornáveis da modernidade. Hobbes, Locke, Rousseau: sempre me interessou esta tríade contratualista. Arendt: a grande pensadora do totalitarismo.
(OC) – Durante as sessões do curso, quais têm sido as reações e principais aprendizagens dos participantes?
(DE) – É interessante que as pessoas têm demonstrado uma gratidão pelo modo como o curso é orientado que é igualada pela minha própria gratidão pelo foco, disponibilidade e afeto com que tenho sido recebido na sala do Âmbito Cultural. Um espaço assim é fascinante. Portanto, a cada edição do curso, é uma pequena comunidade de partilha aquela que se forma. Quanto às aprendizagens, sobretudo tratando-se de um curso livre sem mecanismos de avaliação formal, penso que cada participante será a melhor pessoa para aferir da sua própria aprendizagem.
(OC) – Na sua opinião, qual é o papel da filosofia na formação dos jovens e na sociedade em geral?
 
(DE) – Arrancar o real da capa de banalidade com que algumas facetas do contemporâneo o vestem.
(OC) – Como vê o futuro do ensino da filosofia em Portugal, especialmente no contexto do ensino secundário?
 
(DE) – A mim preocupa-me mais o futuro da aprendizagem. Vejo-a com moderado otimismo: penso que há uma consciência generalizada da importância da filosofia não ser trabalhada como a mera aquisição impessoal de um compêndio.
(OC) – Quais são os maiores desafios que os professores de filosofia enfrentam atualmente no sistema educativo português?
 
(DE) – A filosofia. Não há maior desafio, para um professor de filosofia, do que a própria filosofia.
(OC) – Para além do curso atual, tem planos para futuros projetos ou iniciativas que visem promover a filosofia junto do público em geral?
 
(DE) – Depois de “A bebedeira de Kant – e outros 49 episódios da história da filosofia para pensar a sorrir”, estou a escrever o meu segundo livro de filosofia para a Planeta. A ver se em breve tenho novidades. Comecei também um podcast semanal, na Antena 1, a convite da jornalista Ana Sofia Freitas: Isto Dá Que Pensar. A cada semana, uma evento da atualidade analisado desde um olhar filosófico.
David erlich
Direitos Reservados
Ficamos a saber que Filosofia, para David Erlich, não é apenas uma disciplina académica, mas uma forma de questionar e compreender o mundo e que com um percurso marcado pela investigação e pelo ensino, continuará a desenvolver iniciativas para levar a Filosofia a um público mais amplo, apostando na reflexão crítica e no diálogo.
OC/RPC
- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img

Artigos mais recentes

- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img